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ONU pode criar relatoria especial sobre privacidade

Iniciativa, uma parceria entre Brasil e Alemanha, indica necessidade de proteção ao indivíduo num contexto de vigilância nas comunicações digitais

ONU pode criar relatoria especial sobre privacidade
ONU pode criar relatoria especial sobre privacidade
Primeiro dia do 28º Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra
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O  governo brasileiro trabalha pela adoção de uma nova resolução sobre o direito à privacidade na era digital que permita a criação de uma Relatoria Especial para o direito à privacidade. O debate acontece na reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que começou na segunda-feira, 2/3, e segue até 27 de março, em Genebra. A criação desta relatoria é uma das recomendações de uma resolução anterior, proposta no final do ano passado pelo Brasil em parceria com a Alemanha.

Aprovado na última Assembleia Geral da ONU, a Resolução indica a necessidade de proteção ao direito à privacidade no contexto da vigilância e da coleta de dados das comunicações digitais. Segundo a assessoria de imprensa do Ministério das Relações Exteriores, a resolução conclama “o Conselho de Direitos Humanos a considerar o estabelecimento de um procedimento especial da ONU com mandato para examinar o tema e propor princípios e normas para guiar a comunidade internacional”.

O Minsitério diz ainda que Brasil e Alemanha se engajaram no projeto desta resolução “após as denúncias [feitas pelo ex-consultor da NSA, Edward Snowden] de violações em massa ao direito à privacidade, que inclusive apontaram violações a comunicações da Presidenta Dilma Rousseff e da Chanceler Angela Merkel, em 2013.”

Organizações da sociedade civil de diversos países, como a Human Rights Watch e a Artigo 19, se uniram e produziram um documento para pressionar o Conselho de Direitos Humanos a criar a relatoria.

A tarefa de um relator designado para um mandato especial é investigar e relatar violações aos direitos humanos, além submeter relatórios ao Conselho de Direitos Humanos e à Assembleia Geral da ONU e elaborar recomendações para governos, para as Nações Unidas e para outras entidades interessadas no tema.

Para Maria Laura Canineu, diretora do escritório brasileiro da Human Rights Watch, a nomeação de um relator especial para o direito à privacidade é o mecanismo mais adequado para garantir a efetividade dos direitos à privacidade. Ela observa que a última manifestação da Comissão das Nações Unidas Para os Direitos Humanos [que cumpria a função que hoje desempenha o Conselho de Direitos Humanos] sobre esse tema foi em 1994, há mais de vinte anos.

“Dentre os direitos civis e políticos, o direito à privacidade é o único que não conta com o beneficio de um mecanismo especial para o seu monitoramento”, reitera. “Uma abordagem integrada e especializada é necessária nessa matéria, uma vez que a coleta e retenção de dados esbarra em questões de vigilância digital, ou privacidade quanto à orientação sexual, privacidade familiar, direitos das crianças ou de minorias.”

Laura Tresca, responsável pelo Programa de Liberdade de Expressão da Artigo 19, atenta, no entanto, que não basta que o mecanismo seja aprovado. Primeiro é preciso superar “o gargalo político para a criação de um novo mandato especial das Nações Unidas”, e depois há questões importantes como o financiamento da relatoria.

Ela também pondera que imediatamente após a criação do mandato haverá ainda um percurso burocrático no qual se engajar; “será aberto um edital para postulação de candidaturas, mas a escolha não deixa de ser marcada por um processo de articulação em Genebra, que deve começar muito antes da abertura deste edital.”

Para Maria Laura, mesmo se a medida for aprovada, Brasil e Alemanha devem continuar a desempenhar um papel fundamental, “servindo como exemplo de interação com esse relator, abrindo portas para a sua atuação e aceitando suas recomendações”.

Ela também considera importante o envolvimento de países como Inglaterra e Estados Unidos, além de China e Rússia, já que são “países com um histórico de pouco respeito e garantias às liberdade de expressão”, para que assumam responsabilidades diante destas recomendações.

“Esse envolvimento deve buscar fortalecer a ideia de se estabelecerem mecanismos nacionais independentes que garantam transparência e responsabilidade do Estado no que diz respeito a coleta de dados e vigilância das comunicações privadas.” Ela ressalta que a orientação de um Relator Especial, “que poderá pesquisar efetivamente as práticas dos estados e a legislação disponível”, é especialmente importante dado o desenvolvimento acelerado de novas tecnologias.

No que concerne ao engajamento de outros países até agora, o Ministério das Relações Exteriores informou que a proposta para a criação da relatoria será apresentada ao Conselho de Direitos Humanos pelo “grupo nuclear” integrado por Áustria, Liechtenstein, México, Noruega e Suíça, além de Brasil e Alemanha.

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