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“Insensível, desconfortável e desumano”: Funcionárias brasileiras relatam demissão em massa do Twitter

Profissionais de várias partes do mundo contaram que receberam aviso de que haveria dispensas e depois não conseguiram abrir seus e-mails

Foto: Constanza HEVIA / AFP
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A sexta-feira começou amarga para funcionários do Twitter em todo mundo, inclusive no Brasil. Depois de meses de negociação, que chegaram a ser suspensas, uma das primeiras decisões do bilionário Elon Musk ao comprar a empresa foi um imenso corte da equipe. No Brasil, são cerca de 150 funcionários, segundo o jornal Valor Econômico.

O clima se tornou pesado desde a quinta-feira, quando os empregados receberam um e-mail dizendo que haveria demissões e que eles receberiam notícias sobre o processo pela manhã de hoje — no e-mail de trabalho, se ainda fossem empregados da empresa, ou e-mail pessoal, caso estivessem na lista de demissão.

Quem perdeu o emprego sequer conseguiu ligar seus computadores. De acordo com a agência Reuters, os gerentes foram proibidos de convocar reuniões ou se comunicar diretamente com a equipe.

Duas funcionárias que foram desligadas em São Paulo nesta madrugada, e preferiram não se identificar, contaram que a tensão era grande desde ontem, mas não havia nada oficial sobre a demissão anunciada pelo novo dono para a subsidiária brasileira. A partir de 22h, ambas relatam que os e-mails começaram a chegar para elas e os colegas, em horário diferentes, assim como o acesso a interrupção do acesso ao sistema corporativo.

— Eu recebi primeiro um e-mail que dizia que alguns receberiam e-mails em sua caixa pessoal e outros na profissional. Lá por meia-noite cortaram os acessos sem dizer nada e umas 4h30 recebi a confirmação avisando sobre o desligamento — conta uma delas, da área de marketing.

O e-mail — não nominal e dirigido ao “Team” — é objetivo e começa explicando que será necessária uma redução na força de trabalho nesta sexta, reconhece a contribuição de cada um e afirma que “infelizmente, esta ação será necessária para garantir o sucesso da empresa daqui para frente”.

Em seguida, o texto alega que devido à distribuição dos funcionários (global) e interesse em comunicar o mais rápido possível, as demissões seriam feitas por e-mail e lista três alternativas: se você não foi impactado, receberá um e-mail na sua conta corporativa; se você foi impactado, receberá um e-mail na sua conta pessoal; e se não receber nada até às 17h de sexta, era para procurar a empresa internamente.

Insensível, desconfortável e desumano. São estas palavras para como tudo foi feito. Era uma empresa muito boa, não só nos benefícios, mas na forma de lidar com os funcionários — desabafa uma das funcionárias que à tarde trancou sua conta no Twitter depois de mensagens de haters apoiando a demissão coletiva.

Segundo a profissional, a empresa ainda não passou instruções sobre rescisão e outros detalhes. Além deste departamento, outros, como conteúdo e eventos também teriam sido extintos. — Estamos complemente no escuro, sem saber daqui para frente.

Uma das entrevistadas acredita que dos cerca de 150 funcionários, uns 40 foram demitidos, sendo que todos os terceirizados e time de vendas foram mantidos em sua maioria. Já a outra calcula que ficaram menos de 30. As informações são desencontradas e trocadas entre trabalhadores enquanto aguardam resposta oficial da empresa, que até agora não se pronunciou sobre os desligamentos.

— Foi muito estranho, porque a cultura deles é totalmente diferente. O e-mail (do corte) não tinha nem o nome de ninguém, só o da empresa. Acho que por isso que as pessoas ficaram tão horrorizadas. O que aconteceu foi tudo o que o Twitter não representa.

Em relatos no próprio Twitter, muitos compartilharam o sentimento de tristeza e mágoa com a frieza com a qual foram desligados. Nos posts, muitas histórias com fotos do computador sem poder logar. Um dos funcionários de Londres relata que não conseguiu acessar sua conta às 3h (horário local). Nos comentários, vários usuários repudiaram a forma de desligamento.

Os funcionários que continuaram em seus empregos também se manifestaram contra a demissão coletiva, a exemplo desta profissional desenvolvedora de software que diz: ” Recebi o e-mail… ainda tenho um emprego. Mas fiquei acordada ontem à noite vendo pessoas trabalhadoras, talentosas e atenciosas serem desconectadas uma a uma e não sei o que dizer. Não fui demitida. Tenho vontade de vomitar”.

Elon Musk não se pronunciou oficialmente. Em sua conta na sua nova rede social se limitou a dizer que o “Twitter teve uma queda expressiva de receita devido a grupos ativistas pressionando os anunciantes, mesmo que nada tenha mudado em relação à moderação de conteúdo e nós fizemos o que podíamos para apaziguar os ativistas”, sem se referir às demissões. E continuou: “Totalmente bagunçado. Eles estão tentando destruir a liberdade de expressão na América”.

Brasileiros também compartilharam o luto da notícia que pegou todos de surpresa. Porém, enquanto em outros países os tweets oscilam de lamentações a mensagens positivas de colegas e anônimos, no Brasil, alguns usuários da rede ligaram o corte global a uma questão política brasileira e aplaudiram a decisão.

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