Sustentabilidade

Uso de plástico pode quase triplicar até 2060, diz relatório

OCDE traça cenário sombrio sobre poluição plástica global nas próximas décadas. Mas afirma que previsão pode melhorar se governos tomarem ações concretas visando sustentabilidade, maior reciclagem e menor produção

Foto: iStock
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O plástico há muito tem castigado o planeta. Com frequência, observam-se “ilhas de plástico” flutuando nos oceanos, além de pilhas e pilhas nas praias. Ele também entope os estômagos de pássaros e outros animais, e inclusive chegou à corrente sanguínea humana.

Apesar dos crescentes alertas sobre os danos causados ao meio ambiente e à saúde, o uso de plástico deve quase triplicar em menos de quatro décadas e, como o material não é biodegradável, o lixo resultante dele também vai aumentar. É o que prevê a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em novo relatório divulgado nesta sexta-feira (03/06).

Segundo a entidade intergovernamental, a produção anual de plásticos à base de combustíveis fósseis deve chegar a 1,2 bilhão de toneladas até 2060, e os resíduos consequentes devem ultrapassar 1 bilhão de toneladas.

A OCDE observa que a previsão pode melhorar se os governos – especialmente de países com alta renda per capita, como Alemanha, Estados Unidos e Japão – implementarem reformas agressivas para reduzir a demanda por plástico e melhorar a eficiência da produção.

Ainda assim, a produção de plástico quase dobraria até 2060, projeta o órgão. Em compensação, essas políticas coordenadas globalmente poderiam aumentar enormemente a parcela de resíduos plásticos reciclados nos próximos 40 anos, de 12% para 40%.

“Está claro que manter a mesma forma como usamos, produzimos e gerenciamos o plástico não é mais possível”, afirma Peter Börkey, especialista em política ambiental da OCDE e coautor do relatório, em entrevista à DW.

Grandes danos ao planeta

Um alerta internacional sobre o volume e a onipresença da poluição plástica e seu impacto no planeta vem soando com cada vez mais intensidade e frequência.

Rios como o Ganges na Índia e o Ciliwung na Indonésia já estão cheios de lixo plástico. Infiltrando-se nas regiões mais remotas e intocadas do mundo, microplásticos foram encontrados dentro de peixes nas profundezas do oceano e em meio ao gelo do Ártico. Estima-se que os detritos causem a morte de mais de 1 milhão de aves marinhas e mais de 100 mil mamíferos marinhos todos os anos.

“A poluição plástica é um dos grandes desafios ambientais do século 21, causando amplos danos aos ecossistemas e à saúde humana”, afirmou o chefe da OCDE, Mathias Cormann.

Desde a década de 1950, cerca de 8,3 bilhões de toneladas de plástico foram produzidas, com mais de 60% disso sendo jogado em aterros sanitários, queimado ou despejado diretamente em rios e oceanos.

Cerca de 460 milhões de toneladas de plástico foram usadas somente em 2019, o dobro de 20 anos antes. A quantidade de resíduos plásticos também quase dobrou, ultrapassando 350 milhões de toneladas, sendo menos de 10% recicladas.

Os 38 países-membros da OCDE são os maiores consumidores globais de plástico atualmente. Mas até 2060, cerca de metade do consumo de plástico deverá ser em países da Ásia, Oriente Médio e África. Esses países já têm uma alta incidência de plástico sendo despejado na natureza.

“A maneira mais eficaz de reduzir o plástico no meio ambiente é, em primeiro lugar, ajudando os países em desenvolvimento a melhorar seus sistemas de gerenciamento de resíduos”, diz Börkey à DW. “E os países da OCDE podem ajudar.”

Sugestões aos governos

Os cenários e os cálculos que os autores apresentam no relatório são ambiciosos. Entre as sugestões eles incluem a introdução de um imposto de 1 mil dólares por tonelada de plástico recém-fabricado. A ideia é estimular as empresas a buscarem materiais alternativos.

“Isso terá um impacto significativo na demanda por plástico”, afirma Börkey. “Temos que criar situações em que alternativas aos plásticos de uso único se tornem viáveis.”

Apesar de seus problemas, o plástico ainda é um material extremamente útil, sendo usado em turbinas eólicas e em carros elétricos, por exemplo. Segundo o especialista da OCDE, não é necessário substituir o plástico quando não há boas alternativas a ele ou quando seu uso é sustentável. O objetivo, afirma, é reduzir os tipos de plástico que geralmente acabam no meio ambiente. “Isso normalmente é embalagem. É cerca de um terço do plástico que usamos.”

Estabelecer cotas fixas de reciclagem também ajudaria a reduzir o desperdício e a produção de plástico virgem. O mesmo aconteceria se fosse introduzida uma legislação que obrigue os fabricantes a produzirem embalagens, roupas e veículos de maneira mais sustentável e a garantirem que produtos eletrônicos sejam mais fáceis de reparar, prolongando assim sua vida útil.

Todas essas ideias estão ligadas à chamada economia circular, que visa criar um sistema que evite ao máximo o desperdício e reaproveite os recursos na fabricação de novos produtos.

Pequenos passos

Em março de 2022, 200 países concordaram pela primeira vez em estabelecer regras e instrumentos obrigatórios para produção, consumo e descarte de plástico até 2024. A organização de conservação WWF chamou o movimento de histórico. Os países, contudo, ainda precisam acertar os detalhes.

Em 2021, a União Europeia proibiu vários itens de plástico de uso único, incluindo talheres e pratos descartáveis, copos para viagem, recipientes de isopor e canudos.

Regulamentar o consumo de plástico em todo o mundo, conforme proposto pelos autores do relatório da OCDE, custaria menos de 1% do PIB global até 2060.

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