Tiro no pé

O agronegócio acumula perdas com as mudanças climáticas, mas a bancada ruralista mantém a ofensiva contra a legislação ambiental

Somente um dos projetos em discussão no Congresso permite a exploração de 48 milhões de hectares de campos nativos – Imagem: Daniela Bacellar/GOVRS

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Recentemente, a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) entregou ao governo federal um pedido de socorro para ajudar os produtores rurais impactados pela crise climática. No documento, a entidade apresenta uma série de propostas para minimizar os prejuízos causados por eventos extremos, como secas prolongadas e inundações, os quais foram potencializados pelo fenômeno El Niño e teriam provocado “danos substanciais às plantações e rebanhos em várias regiões do País”. Só no setor de grãos, a previsão é de 13,5 milhões de toneladas a menos, queda de 4,2% em relação à safra anterior. Os ruralistas lamentam as perdas, mas insistem em ignorar a origem do problema. Sua bancada no Congresso Nacional não recua nem um milímetro nos ataques à legislação de proteção ambiental, como se viu no empenho do grupo para alterar e aprovar o Projeto de Lei 364/19.

A proposta do deputado Alceu Moreira, do MDB gaúcho, inicialmente previa a exclusão dos campos de altitude situados nos estados do Sul da Lei da Mata Atlântica, passando a ser regidos pelo Código Florestal. Com isso, seria permitido aos produtores rurais da região manter as atividades desenvolvidas na área sem sofrer multas ou embargos de órgãos ambientais. “Essa alteração legislativa é fundamental para que a produção agrícola das regiões de campos de altitude não seja completamente anulada”, diz trecho do projeto original, ressaltando que a atividade já acontece em larga escala e precisa ser regulamentada. O texto recebeu o aval até mesmo de ambientalistas. No entanto, foi incorporado um “jabuti” na proposta, emendas que resultaram num “liberou geral”. Depois de passar por sete versões, em março a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou o relatório do deputado Lucas Redecker, do PSDB gaúcho, que retira a proteção de toda vegetação nativa não florestal do País, e não apenas da Mata Atlântica, autorizando a exploração de cerca de 48 milhões de hectares de campos nativos.

Macron não hesitou em usar o meio ambiente como pretexto para vetar o acordo Mercosul-UE – Imagem: Everton Amaro/Fiesp

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1 comentário

PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 8 de abril de 2024 00h17
Pantanal, Pampas, Mata Atlântica, Cerrado, Floresta Amazônica correm perigo com esse texto do deputado Lucas Redecker do PSDB RS. Nos dias de hoje e para o futuro, crimes ambientais devem ser considerados crimes hediondos com a severidade de serem inafiançáveis por ameaçarem todo o ecossistema, fauna e flora e a própria humanidade e gerações futuras. O texto do deputado acima deveria ser urgentemente retirado de pauta e este deputado ser denunciado para a própria ONU por estar conspirando contra o Meio Ambiente que está sendo tremendamente ameaçado, com aumento da temperatura, extinção de espécies animais e vegetais, toda uma reconfiguração climática que leva a secas, estiagens, aumento de desertos pelo mundo, potencializado pelo aumento do efeito estufa e diminuição de terras agricultáveis e desastres ecológicos. Esses deputados que aprovaram a tal PL 364/19 precisa ser barrado pelo Senado. Se os senadores têm apreço a humanidade e ao Meio Ambiente e futuras gerações precisam ter a sensibilidade de rejeitar essa proposta e toda essa agenda do atraso de modo a fazer com que o país cumpra com os compromissos ambientais e diminua as desigualdades. Toda essa desproteção ambiental fará com que o país e os brasileiros paguem um preço caro no futuro. Não se trata de luxúria ambientalista mas de respeito a natureza, sobrevivência das atuais e das futuras gerações.

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