Sustentabilidade

Tereza Cristina diz que ‘mais gado no Pantanal’ atenuaria queimadas

Investigações da PF e do governo de Mato Grosso, porém, apontam que pecuaristas foram responsáveis pelo fogo no bioma

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
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A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, defendeu nesta sexta-feira 9 que o Pantanal poderia ter passado por um “desastre menor” se existissem mais cabeças de gado na região.

“Aconteceu um desastre porque nós tínhamos muita matéria orgânica seca, e, talvez, se nós tivéssemos um pouco mais de gado no Pantanal, teria sido um desastre até menor do que o que nós tivemos neste ano. Isso tem de servir como reflexão sobre o que é que nós temos de fazer”, afirmou a ministra.

A fala foi feita em audiência na comissão especial do Senado, montada para acompanhar as ações do governo no Pantanal, que encara a pior queimada da história recente.

Cristina ainda disse que o boi é o “bombeiro do Pantanal” por comer “aquela massa do capim” que, por estar acumulada e em tempo seco, ajuda na propagação das queimadas. A tese também já foi defendida pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. “É ele [boi] que come essa massa para não deixar que ocorra o que este ano nós tivemos”, completou.

Uma investigação da Polícia Federal apura, porém, a possibilidade da ação de pecuaristas ter espalhado o fogo no bioma. Segundo a PF, os agentes conseguiram monitorar o início do fogo e seu avanço diário nas regiões.

O governo do Mato Grosso também já divulgou resultados das perícias em cinco áreas da região do Pantanal, ao sul do estado.

De acordo com o Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional (Ciman-MT), na Reserva Particular do Patrimônio Natural Sesc Pantanal (RPPN) – região de Barão de Melgaço, o incêndio foi provocado com o propósito de queimar a vegetação desmatada “para criação de área de pasto para gado.”

Em outro local, denominado Fazenda São José, o fogo começou por causa da “queima de raízes para o uso de fumaça a fim de retirar os favos de mel”, em uma área onde se costuma fazer extração de mel de abelhas silvestres.

Atraso na contratação de brigadistas minou estratégia do PrevFogo

No entanto, não é novidade para os órgãos ambientais brasileiros a existência de acúmulo de matéria orgânica nos biomas entre os períodos de maior seca. É para isso que equipes de brigadistas do PrevFogo, ligados ao Ibama, realizam mapeamentos anuais para irem realizar o uso controlado do fogo e, com isso, diminuir a quantidade de capim acumulado.

Neste ano, os brigadistas do PrevFogo foram contratados apenas em julho. Geralmente, esses trâmites acontecem em abril.

Em entrevista ao portal O Eco em junho, o ex-chefe de fiscalização do Ibama, Luciano Evaristo, já alertava para o perigo da explosão das queimadas devido ao atraso no trabalho dos brigadistas.

“O que está comprometido é o trabalho preventivo com as queimas prescritas, o combate não, porque o combate mesmo, para valer, vai ser julho, agosto e setembro. Sem as brigadas, principalmente a Amazônia e o Cerrado vão entrar em chamas incontroláveis. E o custo do combate é 10 mil vezes o custo da prevenção”, disse Evaristo.

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