Sociedade

Novas evidências sugerem que a Amazônia pré-colonial foi habitada por 10 milhões de indígenas

Segundo antropólogo, povos teriam sido responsáveis por modificar o solo da floresta e construir uma intensa rede comercial na região

Indigenista é morto por flechada em tribo isolada da Amazônia. Foto: AFP.
Apoie Siga-nos no

Estudos revelam que, em vez de pouco habitada, a Amazônia pré-colonial tinha uma população de cerca de 10 milhões de indígenas. De acordo com o arqueólogo e professor da USP, Eduardo Goes Neves, eles teriam sido responsáveis pela criação de uma intensa rede comercial e por tornar o solo da floresta mais produtivo a partir do cultivo de algumas espécies de plantas.

A ideia de que a floresta não se resumiu a um universo verde intangível é revelada no livro Sob os tempos do equinócio – Oito mil anos de história na Amazônia Central, lançado em julho de 2022.

“O senso comum é de que só havia meia dúzia de indígenas na Amazônia. Mas hoje a gente vê que houve uma história muito dinâmica, com processos demográficos, de miscigenação, de redes de troca e de comércio. Também há indícios de guerra e conflitos”, destaca o professor. “Não houve um único processo, temos uma história indígena ancestral que é muito rica e merece ser conhecida”, conclui.

Segundo o professor, a revelação derruba a hipótese de que nunca havia existido uma população grande na Amazônia por problemas alimentares derivados de um solo pobre e um bioma imponente a mudanças. As principais evidências que sustentam a nova tese foram a descoberta de terras pretas, um tipo de solo fértil, que tinham sido formadas artificialmente pelos povos indígenas por meio da compostagem com o depósito de restos de matéria orgânica e a domesticação milenar de plantas como a mandioca, o cacau e o amendoim, que passaram a ser “hiper dominantes” e alteraram a formação florestal.

Atualmente, há cerca de 16 mil espécies de plantas conhecidas na Amazônia, mas o volume de 227 delas, o equivalente a 1,4%, correspondem a quase metade de todas as plantas existentes no território.

Evidência de pirâmides

Em junho de 2022, um grupo de pesquisadores alemães publicou a comprovação da existência de pirâmides há 1.500 anos na Amazônia boliviana. O estudo comprovou que havia 26 assentamentos e pirâmides de até 22 metros de altura pertencentes à cultura Casarabe, entre 500 e 1400 anos depois da era comum (EC).

Outros sítios arqueológicos descobertos nos últimos anos revelam várias e diferentes camadas de ocupação indígena no território amazônico, como assentamentos com pátios centrais e grandes malocas. Além disso, as cerâmicas encontradas em um único ponto sugerem que diferentes etnias possam ter habitado a mesma região ao longo do tempo.

Eles identificaram que, há 1.500 anos, os povos Casarebe estavam instalados no local em assentamentos definidos como “urbano tropical de baixa densidade”, que se estendiam por uma área de cerca de 16 mil km².

Neves destaca que, ao contrário do que existia nas civilizações Maia e Asteca, as construções na Amazônia não eram de pedras. As ruínas amazônicas são de terra, o que levantava dúvidas entre os cientistas se não se trataria de transformações naturais do solo. Hoje, já se sabe que esses pequenos morros, similares a prédios de sete andares, foram construídos pelos povos originários.

As etnias existentes no período pré-colonial seriam similares aos povos indígenas remanescentes, mas vale ressaltar que a colonização teve efeito catastrófico a estas culturas. Segundo o pesquisador, os europeus trouxeram uma série de doenças e promoveram conflitos de extermínio, que podem ser vistos também em evidências de criações de defesas dos povos originários contra estes invasores.

Para o antropólogo, as revelações reforçam que “não dá para pensar no futuro da Amazônia sem pensar no papel dos povos indígenas”.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo