Sustentabilidade

Multiplicação de catástrofes prova que o aquecimento global já devasta o planeta

Mesmo se os países mantiverem seus compromissos de redução de emissões, os termômetros vão subir ao menos +3°C até o fim do século

Jovens com placas alertando para a crise climática no planeta (Foto: Jeremie Richard/AFP)
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Recordes de calor, multiplicação de catástrofes meteorológicas, derretimento de geleiras, um declínio sem precedentes da natureza: as provas do impacto devastador das atividades humanas sobre o planeta se acumulam, atestando a urgência de se agir em particular contra as mudanças climáticas.

Em menos de um ano, quatro relatórios científicos da ONU sobre o estado do planeta soaram como uma sirene de alerta para cidadãos do mundo inteiro. Uma constatação alarmante que aumenta a pressão sobre os signatários do Acordo Climático de Paris, que se reúnem a partir de segunda-feira 2 em Madri para a COP25.

Recordes de calor

Os quatro últimos anos foram os mais quentes já registrados no planeta. Após ter tido o mês mais quente da história, em julho, o ano de 2019 deverá se somar ao ‘top 5’ e inclusive se situar como o 2º ou o 3º mais quente, segundo a Agência Oceânica e Atmosférica americana (NOAA).

E este é apenas o começo. O mundo esquentou em média 1°C desde a era pré-industrial. Mas se os termômetros continuarem a subir no ritmo atual, sob o efeito das emissões de gases estufa, o limite de +1,5°C, meta ideal do Acordo de Paris, deverá ser alcançado entre 2030 e 2052, segundo os especialistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), subordinado à ONU.

Mesmo se os países mantiverem seus compromissos de redução de emissões, os termômetros vão subir ao menos +3°C até o fim do século, enquanto cada meio grau suplementar aumenta a intensidade e/ou a frequência de catástrofes meteorológicas, como ondas de calor extremo, tempestades, secas ou inundações.

Além disso, os cientistas que trabalham em novos modelos climáticos que servirão de base para o próximo relatório do IPCC, previsto para 2021, sugerem um aquecimento ainda mais pronunciado que o previsto, com o pior cenário marcando +7°C em 2100 (contra as previsões de pior cenário de +4,8°C anteriormente).

Multiplicação de catástrofes

Ondas de calor excepcionais na Europa, incêndios gigantescos na Sibéria ou na Austrália, o ciclone Idai em Moçambique, Veneza debaixo d’água…

Mesmo que seja difícil atribuir uma catástrofe específica às mudanças climáticas, a multiplicação em curso de fenômenos extremos reflete as previsões dos cientistas. E o futuro será ainda mais sombrio.

Em um mundo 1,5°C mais quente, os episódios de fortes precipitações serão mais frequentes, intensos e/ou abundantes, segundo o IPCC. A frequência e a intensidade das secas também deverão aumentar.

E até mesmo meio grau a mais nos termômetros causaria diferenças de impacto claras.

Desta forma, por exemplo, mesmo com um teto de +2°C, objetivo mínimo do acordo de Paris, for respeitado, os ciclones, furacões ou tufões serão mais potentes e a proporção de ciclones de categorias 4 e 5 deverá aumentar.

Excesso de CO2

Segundo um relatório da ONU, publicado esta semana, as emissões de CO2 avançaram em média 1,5% por ano nos últimos dez anos e elas não dão nenhum sinal de contenção, enquanto seria necessário que baixassem anualmente 7,6%, todos os anos, entre 2020 e 2030 para esperar respeitar o limite de +1,5°C.

Ao fim de 2018, os principais gases de efeito estufa superaram recordes de concentração na atmosfera, particularmente o CO2, com 407,8 partes por milhão (ppm).

A última vez que a atmosfera terrestre viu uma quantidade similar de CO2 “foi há 2 a 5 milhões de anos: a temperatura era de 2º a 3°C mais elevada que atualmente e o nível do mar, 10 a 20 metros acima do atual”, destaca a Organização Meteorológica Mundial (OMM).

Enchente atinge a famosa Praça de São Marcos, em Veneza (Foto: Comune de Veneza)

O gelo derrete, o mar se eleva

Segundo o IPCC, o nível dos mares aumentou 15 cm no século XX. O ritmo desta elevação se acelerou e o nível dos oceanos continuará a subir durante os séculos, ameaçando zonas costeiras pouco elevadas, onde viverão mais de um bilhão de pessoas até 2050.

Mesmo se o mundo conseguir reduzir fortemente as emissões, a elevação dos oceanos poderia chegar de 30 a 60 cm até 2100. E de 60 a 110 cm, se as emissões continuarem a aumentar.

Esta elevação é devida, sobretudo, ao degelo. As duas calotas glaciares, na Antártica e na Groenlândia, perderam em média 430 bilhões de toneladas ao ano desde 2006. A banquisa da Antártica recuou também e muitas geleiras de montanha podem desaparecer.

Um milhão de espécies ameaçadas

A humanidade não é responsável apenas pelo clima caótico. A exploração sem precedentes que faz dos recursos naturais do planeta, em particular para alimentar uma população crescente, leva, paralelamente, ao maior declínio da natureza já visto.

Práticas agrícolas, exploração florestal, poluição… Segundo especialistas da ONU em biodiversidade (IPBES), 75% do meio ambiente terrestre e 66% do marinho estão degradados. O resultado: um milhão de espécies da flora e da fauna estão ameaçados de desaparecer, muitas nas próximas décadas.

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