Sustentabilidade
Meta de redução de carbono estaciona e ONGs criticam falta de compromisso
Atualização do plano de redução do CO2 é um dos condicionantes do Acordo de Paris, mas Salles anunciou que meta não mudou desde 2015
O governo Bolsonaro divulgou a meta climática de redução de emissões de gases-estufa, conforme previsto no Acordo de Paris para o ano de 2020, mas não realizou um estudo de mudanças de perspectivas, nem articulou propostas práticas para atingir os objetivos.
Entre os pontos apresentados pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, estão uma redução de 43% nas emissões do Brasil em 2030 em relação a 2005 – sem qualquer atualização em relação ao indicado pela então presidenta Dilma Rousseff (PT) em 2015 – e a perspectiva de neutralidade em carbono na economia apenas em 2060, encontrando, nessa época, apenas a China.
O ministro apresentou metas em uma coletiva do Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM), mas ainda não foram publicados os documentos oficiais sobre a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC).
“[A NDC] reafirma os compromissos brasileiros e coloca o compromisso de neutralidade de emissões até 2060, destacando a possibilidade de o prazo ser reduzido, consoantes sejam implementados os mecanismos de mercado previstos no Acordo de Paris”, mencionou Salles.
Um dos pontos mais importantes para o ministro bolsonarista é o condicionamento das metas aos pagamentos advindos dos países ricos, que, a partir do ano que vem, devem ficar na casa dos 10 bilhões de dólares por ano ao Brasil e outros países em desenvolvimento.
“Meta climática insuficiente e imoral”
Para a rede de organizações ambientalistas Observatório do Clima, a proposta do governo é “imoral” e não abrange todos os esforços que poderiam ser feitos, em conjunto com a comunidade internacional, para limitar o aquecimento global a menos de 2ºC até o fim do século. “Ela nos levaria a um mundo cerca de 3°C mais quente se todos os países tivessem a mesma ambição”, acrescenta a nota da organização.
“Num momento em que dezenas de países começam a aumentar significativamente a ambição de suas metas, em linha com novas recomendações da ciência, o Brasil oferece um esforço adicional de apenas 6%, que já estava proposto antes mesmo de o Acordo de Paris ser adotado. O mundo mudou, mas as metas do Brasil, não”, escreve a rede.
O observatório lembra ainda que cumprir todas as regras do Acordo de Paris é uma das condicionantes para o andamento do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia – travado, em grande parte, pelo trágico cenário ambiental brasileiro, especialmente na Amazônia.
A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede) escreveu que “fica claro que o atual governo não quer assumir nenhuma responsabilidade” ao propor 2060 como o ano da neutralização do carbono na economia.
O que adianta o governo anunciar um novo compromisso do Brasil para neutralizar as emissões até 2060 se nada faz para zerar o desmonte ambiental no país? Fica claro que o atual governo não quer assumir nenhuma responsabilidade.
— Marina Silva (@MarinaSilva) December 9, 2020
Silva relembra ainda o estudo organizado pelo Observatório do Clima que estabeleceu como objetivo alcançável, se o País se comprometesse com o fim do desmatamento, a redução em 81% das emissões de carbono em relação a 2005. O limite das emissões líquidas para as ONGs deveria ser de 400 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) equivalente na atmosfera. Para o governo, esse limite vai a 1.500 milhões de toneladas.
Um minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.
Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.
Assine a edição semanal da revista;
Ou contribua, com o quanto puder.