Política

Laudo da PF mostra que madeira apreendida ‘sumiu’ antes de decisão judicial favorável a Wassef

Entre junho e agosto de 2021, 31,5 mil metros cúbicos de madeira foram ‘movimentados’ do pátio da MDP Transportes na Fazenda Imbaúba, no Pará

Foto divulgada pela PF
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Uma perícia feita pela Polícia Federal no Amazonas mostrou que, ao longo de 2021, parte das toras de madeira nativa apreendidas na Operação Handroanthus desapareceu ou foi comercializada dentro dos pátios das empresas alvo da operação – mesmo sob a responsabilidade do poder público.

O documento – obtido com exclusividade por CartaCapital – aponta que, entre junho e agosto, 31,5 mil metros cúbicos de madeira foram “movimentados” do pátio da MDP Transportes na Fazenda Imbaúba, no Pará.

Em dezembro, a empresa, que passou a ser defendida pelo advogado de Jair Bolsonaro (PL) Frederick Wassef, conseguiu uma liminar no Tribunal Regional Federal da 1° Região para ter acesso às toras e aos bens apreendidos pela PF. Os policiais detectaram, porém, que a retirada das toras já ocorria meses antes da decisão judicial. Vale lembrar que o material apreendido estava sub judice e, de acordo com o Exército, era responsabilidade da Polícia Federal e do Ministério da Justiça. Madeira ilegal pode estar misturada a madeira legalizada, segundo o MPF.

A perícia analisou imagens de satélites de alta resolução espacial, documentos emitidos pela Secretaria de Meio Ambiente do Pará e termos de apreensão. As imagens mostram a madeira desaparecendo dos pátios das duas fazendas. Além disso, segundo análise do Sistema de Comercialização e Transporte de Produtos Florestais, o Sisflora, foram emitidas guias florestais entre julho e agosto para movimentar 33,5 mil metros cúbicos de toras de madeira do pátio da MDP destinadas a 16 empresas. Até mesmo o caminhão branco apreendido pela PF continuou fazendo o transporte da madeira.


A decisão liminar de dezembro foi concedida pelo desembargador Ney Bello, que figura na lista tríplice enviada a Jair Bolsonaro como um dos indicados a uma cadeira no Superior Tribunal de Justiça. Wassef, amigo pessoal de Bolsonaro, ganhou os holofotes depois que abrigou o ex-assessor do presidente Fabrício Queiroz quando este esteve foragido da Justiça no caso das “rachadinhas”.

“Para determinar a imediata restituição das madeiras/toras que estejam devidamente etiquetadas e legalizadas, oriundas de atividade legalmente exercida”, registrou o desembargador na decisão obtida por CartaCapital. Wassef entrou com o pedido no TRF-1 depois que a Justiça Federal no Amazonas negou a liberação das toras, por estarem ainda sob investigação.

A decisão do TRF-1 também provocou reação do Ministério Público Federal, que, na noite de quinta 20, alegou ter sido prejudicado pela decisão liminar e não ter sido consultado sobre o tema.

Na petição, o MPF também defende que a devolução da madeira seja feita após perícia da Polícia Federal, uma vez que toras legais e ilegais podem estar misturadas.

Empresas também contaram com ‘advocacia amiga’ de Salles

A Handroanthus, em dezembro de 2020, foi responsável pela maior apreensão da história de madeira extraída ilegalmente na Amazônia. Foram 131 mil metros cúbicos de madeira, cujo preço é avaliado em 130 milhões de reais.

As toras foram retiradas de terras públicas griladas e as madeireiras não apresentaram documentação válida. Na época, elas contaram com um ilustre advogado de defesa: o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que acabou por se tornar alvo de outra operação, a Akuanduba, por “grave esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais”.

Ele foi alvo de queixa-crime no Supremo Tribunal Federal, mas, com a perda do foro privilegiado, seu caso também foi para o TRF-1. Logo depois, a Polícia Federal deu início a uma série de remanejamentos dentro da estrutura de combate a crimes ambientais, trocando de funções ao menos três delegados federais responsáveis pelas investigações.

CartaCapital entrou em contato com o Exército, que informou que as toras apreendidas são de responsabilidade da Polícia Federal e do Ministério da Justiça desde fevereiro de 2021, quando “as operações logísticas em relação à Handroanthus finalizaram”. A Polícia Federal afirmou que o caso está sob a responsabilidade da Superintendência do Amazonas, que ainda não retornou o pedido de informações.

A reportagem também procurou a empresa MDP por telefone e entrou em contato com o escritório de Wassef por e-mail e telefone, sem retorno. O Ibama também não respondeu à solicitação.

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