Distopia

Os líderes do G-20 ignoram a urgência climática, apesar das catástrofes recentes e recorrentes

No encontro dos líderes das 20 maiores economias, Lula citou as inundações no Rio Grande do Sul. O Brasil assume em dezembro a presidência provisória do G-20 sob a promessa de um “planeta sustentável”, mas as divergências entre os países parecem insanáveis – Imagem: Embaixada da França/India e Silvio Avila/AFP

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O número de vítimas das tragédias naturais ao redor do mundo não para de crescer. No Rio Grande do Sul, o ciclone tropical, maior incidente nos últimos 40 anos, deixou um saldo até o momento de 47 mortos e nove desaparecidos, além de milhares de desabrigados e prejuízos milionários. No Marrocos, que não enfrentava um terremoto de grandes proporções havia mais de um século, a última contagem aproximava-se de 3 mil mortes, a mesma quantidade­ de desaparecidos e cerca de 300 mil habitantes afetados. Embora o epicentro tenha ocorrido nos arredores da estância turística de Marrakesh, os tremores, na escala Richter de 6.8 graus, foram sentidos no sul de Portugal, a quase 1,2 mil quilômetros de distância (reportagem à página 17). Na Líbia, as chuvas torrenciais e incomuns para esta época do ano provocaram o rompimento de uma barragem. Saldo: 5 mil mortos e 20 mil desabrigados, segundo as últimas informações. Após o calor no verão atingir novos recordes na Itália e nos Estados Unidos e os incêndios florestais castigarem a Grécia e o Havaí, com dezenas de vítimas fatais, as inundações colocaram em estado de alerta países tão geograficamente distantes quanto China, Espanha e Brasil. “Não precisamos de mais avisos. O futuro distópico já está aqui. Precisamos de medidas urgentes agora”, implorou Volker Turk, alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, na segunda-feira 11, durante conferência em Genebra. Turk alertava para um dos aspectos do aquecimento global, a fragilidade dos mais pobres diante dos eventos cada vez mais extremos. “As alterações climáticas têm empurrado milhões de seres humanos para a fome. Destroem esperanças, oportunidades, casas e vidas. Nos últimos meses, os alertas urgentes tornaram-se realidades letais repetidas vezes em todo o planeta”, acrescentou.

Turk tem razão. Não se trata mais de discutir projeções ou modelos abstratos elaborados por cientistas. A própria natureza emite sinais de que as coisas vão de mal a pior. Junho e agosto tornaram-se os meses mais quentes no verão do Hemisfério Norte desde o início das medições, no século passado. O mapa publicado à página 18, elaborado pelo grupo de pesquisa norte-americano Climate Central, mostra a disseminação das ondas de calor pelos continentes. Entre junho e agosto, 98% da população global, quase 8 bilhões de indivíduos, foi submetida a temperaturas elevadas em uma proporção duas vezes maior que a média histórica. E quase metade dos seres humanos enfrentou 30 dias ou mais de sol abrasador no mesmo período, situação que passou de rara a corriqueira por conta do aumento da poluição. Ao fenômeno os cientistas deram o nome de “a era da fervura”.

O verão no Hemisfério Norte, o mais quente da história, foi marcado por enchentes na China e na Espanha e queimadas no Havaí, entre outros eventos extremos – Imagem: STR/AFP, Sgt. Andrew Jackson/National Guard e Oscar Del Pozo Canas/AFP

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4 comentários

José Carlos Gama 15 de setembro de 2023 23h17
Pare o mudo que eu quero descer, já dia Mafalda uma personagem criada por Quino, um argentino genial e utilizada pelo cantor Silvio Brito como titulo de letra musical: Pare o mundo que eu quero descer que eu não aguento mais escovar os dentes com a boca cheia de fumaça.... era uma referencia aos estragos de toda ordem... produzidos pela industrialização desenfreada em busca da riquesa total. Se tivessemos ouvido essa menininha de seis anos reclamona, quem sabe, estariamos mais esperançoso com o planeta independentes dos homens ricos e maus.
Rosa Carmina Couto 16 de setembro de 2023 20h55
O planeta dá sinais das mudanças climáticas através dos eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes inundações, secas fortes ,ondas de calor, ciclones, tufões, etc que tem levado a perda de vidas de populações vulneráveis. Ainda temos tempo de redirecionar nossos opções: parar de consumi energia fóssil e investir em energias renováveis. É lamentável que o Brasil ainda pondere explorar petróleo na Foz do Rio Amazonas. Lula tem que decidi essa questão pensando no futuro da humanidade nesse planeta. É possível o Brasil se desenvolver com base na matriz energética renovável e diminuindo gradativamente o consumo de petróleo. A Mãe Terra agradece.
Paulo Sérgio Cordeiro Santos 18 de setembro de 2023 00h58
De fato, o planeta terra está reagindo a fúria da cobiça do homem. Do homem rico, que tem poder de fogo e não pensa em seus semelhantes, somente em si mesmo. Nem isso o salva, pois o imediatismo poderá mata-lo, certamente. Está nas mãos dos homens que governam o mundo o destino do planeta e da própria humanidade. Retardar medidas austeras de preservação do meio ambiente e não lançar na atmosfera gases tóxicos que produzem o efeito estufa é partir para o suicídio. De fato, parece que essas tragédias que acontecem não sensibiliza esses homens que tratam as coisas sérias com absoluto cinismo. Devemos considerar que no livro I de O Capital, Marx argumenta que a agricultura capitalista, ao desconsiderar as necessidades das gerações futuras, perturba seriamente a “interação metabólica entre os humanos e a Terra “, por causa de seu gerenciamento míope do solo. Após muita reflexão, Marx tornou-se consciente da necessidade de lidar com o problema do desastre ambiental como uma limitação imposta ao processo do capital. O capitalismo é caracterizado pela alienação da natureza e por uma relação distorcida entre humanos e a natureza e assim, para Marx, deve haver uma ideia emancipatória de humanismo e naturalismo como projeto de restabelecer a unidade entre humanidade e natureza contra a alienação capitalista. Esta seria uma utopia que deveria ser perseguida todo o tempo.
CESAR AUGUSTO HULSENDEGER 23 de setembro de 2023 13h35
E Mamãe Oxum só observa…

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