Política
Defensoria quer derrubar norma de Bolsonaro que permitiu mineração em assentamentos
Portaria assinada em 2021 também deu aval a empreendimentos de energia e de infraestrutura sem consulta às comunidades
A Defensoria Pública da União pediu ao Incra a revogação imeadiata de uma instrução normativa editada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que permite a mineração em assentamentos de terra.
O requerimento, assinado pelos representantes da defensoria de Direitos Humanos em dez estados, também foi encaminhado à presidência da Agência Nacional de Mineração. Com a “canetada” de 2021, Bolsonaro também autorizou empreendimentos de energia (linhas de transmissão, parque eólicos e solares) e de infraestrutura nos assentamentos.
Para a DPU, porém, a normativa “deixou de prever salvaguardas essenciais para a proteção dos direitos das comunidades assentadas” ao não instituir mecanismos eficazes de consulta prévia, livre e informada às populações.
O documento também aponta ausência de “critérios técnicos consistentes para a análise de compatibilidade entre os empreendimentos e os objetivos da política agrária, tampouco dispositivos voltados à proteção ambiental e à sustentabilidade socioeconômica dos territórios afetados”.
O Incra e a ANM têm 30 dias para se manifestar sobre os prejuízos apontados pela defensoria no requerimento.
A solicitação baseia-se em um relatório que identificou a existência de mais de 17 mil processos minerários relativos a assentamentos, muitos deles nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que não tiveram registro formal da “análise de compatibilidade” com a reforma agrária e colocam “em risco direitos fundamentais das famílias assentadas”.
O órgão também pede a suspensão de todos os processos de anuência em tramitação com base no texto até o fim de uma análise criteriosa de seus impactos sociais, ambientais e fundiários, bem como a criação de um banco de dados nacional sobre empreendimentos incidentes em áreas de reforma agrária.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.



