Sustentabilidade
Congresso Brasileiro de Agroecologia discute territórios, soberania alimentar e ciência aplicada na Bahia
Entre os anúncios previstos, estão os resultados do mapeamento de 503 experiências agroecológicas em 307 municípios


A cidade de Juazeiro (BA), no Vale do São Francisco, sedia a partir desta quarta 15 a 13ª edição do Congresso Brasileiro de Agroecologia, que deve reunir mais de 3 mil participantes de todos os estados. Com o tema “Agroecologia, Convivência com os Territórios Brasileiros e Justiça Climática”, o encontro tem como eixo a territorialidade e o enfrentamento a eventos climáticos extremos. Entre os anúncios previstos está o lançamento de um mapeamento sobre como iniciativas agroecológicas vêm respondendo às mudanças do clima e reestruturando sistemas alimentares nos territórios.
O estudo, conduzido pela Articulação Nacional de Agroecologia, a ANA, em parceria com a Fiocruz e outras entidades, foi realizado entre abril e junho e analisou 503 experiências em 307 municípios, mobilizando mais de 20 mil pessoas — entre agricultores, camponeses, educadores, estudantes, povos indígenas e quilombolas. “No Brasil, o sistema alimentar é responsável pela emissão de mais de 70% dos gases de efeito estufa, o que nos faz pensar que não adianta procurar as mudanças climáticas só olhando para a atmosfera”, afirma Helena Lopes, pesquisadora da Fiocruz e da ANA. Segundo ela, os dados apontam queda de 56,3% na produção das experiências analisadas e perda de 48,1% de alimentos.
A programação inclui ainda o 7º Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores, da Articulação do Semiárido (ASA), com apoio do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome. “Será um momento político importante, porque, para nós, não há um saber que se sobreponha a outro. O saber de quem faz agroecologia na prática é tão importante quanto o de quem pesquisa na academia”, diz Roselita Victor, da coordenação executiva da ASA. “Até porque agricultoras e agricultores também são pesquisadores por natureza, trocam conhecimento e experiências em suas comunidades.”
Na sexta 17, os chamados “guardiões de sementes” discutem ações de resgate, conservação, produção, multiplicação, armazenamento, gestão e comercialização de sementes crioulas — com destaque para a defesa do milho crioulo, ameaçado pela expansão de lavouras transgênicas. Estão previstos testes de transgenia e o anúncio de campanhas contra a contaminação por organismos geneticamente modificados. Para Rafaela Barros, do Programa Agrobiodiversidade do Semiárido, o manejo e o papel dos guardiões são centrais: “A semente crioula é uma inovação que fundou a agricultura.”
Ao longo do CBA, painéis temáticos tratarão de soberania e segurança alimentar, redes de conhecimento para a resiliência dos territórios e políticas públicas, ciência e tecnologia voltadas à agroecologia. O congresso vai até sexta 18, no campus da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Juazeiro.
(A repórter viajou a convite da organização do evento)
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