Sustentabilidade

Brasil atinge o maior nível de emissões de gases de efeito estufa desde 2006

Segundo o Observatório do Clima, em 2020, taxas cresceram 9,5% no País e despencaram quase 7% no resto do mundo

Foto: Ricardo Azouryi/Istockphoto
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As emissões de gases de efeito estufa no Brasil cresceram 9,5% em 2020, enquanto no resto do mundo despencaram em quase 7% devido à pandemia. É o maior montante de emissões de 2006, segundo nova estimativa do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa, do Observatório do Clima, que todo ano calcula quanto o Brasil gerou de poluição climática.

As emissões nacionais brutas chegaram a 2,16 bilhões de toneladas de gás carbônico, contra 1,97 bilhão em 2019. É o maior nível de emissão do país desde 2006, aponta a nona edição do relatório lançado nesta quinta-feira 28.

Descontando as remoções de carbono por florestas secundárias e áreas protegidas, as emissões líquidas do país no ano passado foram de 1,52 GtCO2e, o que representou um aumento de 14% em relação a 2019, quando elas foram de 1,34 GtCO2e.

Desmatamento na Amazônia e Cerrado puxam alta

O estudo ainda avaliou que, dos cinco setores da economia que respondem pelas emissões do Brasil, três tiveram alta, um teve queda e um permaneceu estável.

O setor que puxou a curva para cima, ‘e tornou o Brasil possivelmente o único grande poluidor do planeta a aumentar suas emissões no ano em que o planeta parou’ foi o setor de mudança de uso da terra. Representadas em sua maior parte pelo desmatamento na Amazônia e no Cerrado (que, somados, perfazem quase 90% das emissões do setor), as mudanças de uso da terra emitiram 998 milhões de toneladas de CO2e em 2020, um aumento de 24% em relação a 2019 (807 milhões).

Os dados são avaliados dentro de um contexto de desmonte da fiscalização ambiental e de descontrole sobre crimes como grilagem, garimpo e extração ilegal de madeira no governo Bolsonaro. O relatório crava que apenas na Amazônia a emissão por alterações no uso do solo alcançou 782 milhões de toneladas de CO2e no ano passado. “Se a floresta brasileira fosse um país, seria o nono maior emissor do mundo, à frente da Alemanha. Somando o Cerrado (113 milhões de toneladas de CO2e) à conta, os dois biomas emitem mais que o Irã e seriam o oitavo emissor mundial”, atesta o estudo.

Também há alta no setor agropecuário. Foram 577 milhões de toneladas de CO2e (27% do total nacional) em 2020, uma alta de 2,5%. É a maior elevação desde 2010 num setor cujas emissões nos últimos anos vinham oscilando pouco, destaca o estudo. O relatório explica que, em parte o fenômeno aconteceu por uma razão contraintuitiva: a crise econômica diminuiu o consumo de carne, com uma redução de quase 8% no abate de bovinos. O rebanho nacional aumentou em cerca de 3 milhões de cabeças, o que, por sua vez, aumentou também as emissões de metano por fermentação entérica (o popular “arroto do boi”).

O relatório ainda verificou crescimento de 1,8% no setor de resíduos domésticos, saindo de 90,4 milhões para 92 milhões de toneladas de CO2e. Segundo o relatório, pairam incertezas sobre as causas do efeito, mas é apresentada como hipótese o aumento da geração de resíduos sólidos municipais em cerca de 10% no ano de 2020 e de esgoto doméstico, o que pode estar relacionado às medidas da quarentena.

A estabilidade de emissões foi verificada nos processos industriais, representados sobretudo pela fabricação de aço e cimento, atividades altamente emissoras. O setor oscilou de 99,5 milhões para 99,7 milhões de toneladas de 2019 para 2020, representando 5% das emissões totais do Brasil.

No setor de energia, o que foi verificado foi uma ‘queda forte’ de 4,6%, o maior percentual de queda de emissões em 2020. “Isso ocorreu em resposta direta à pandemia, que nos primeiros meses de 2020 reduziu o transporte de passageiros, a produção da indústria e a geração de eletricidade. Com 394 milhões de toneladas de CO2e, o setor energético retornou aos patamares de emissão de 2011″, avalia o relatório.

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