Aumento da devastação na Mata Atlântica pode impactar diretamente 70% dos brasileiros, alerta pesquisador

Resultados mais visíveis serão a falta de água, impacto na produção de alimentos e o aumento no risco de desastres ambientais, como as fortes chuvas que assolaram cidades da Bahia

Rio Vermelho (MG). Foto: Douglas Magno

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Na contramão do mundo, a pandemia não foi o bastante para conter o avanço da destruição da Mata Atlântica brasileira. Entre 2020 e 2021, anos de distanciamento social mais intenso, o desmatamento do bioma aumentou 66% na comparação com 2019.

Os dados são da mais recente edição do Atlas da Mata Atlântica, divulgada nesta quarta-feira 25 pela fundação SOS Mata Atlântica.

A área total de desmatamento nos 17 estados compostos pelo bioma foi de 21.642 hectares, o equivalente a 20 mil campos de futebol ou 2,5 hectares desmatados por hora. A expansão do desmatamento, segundo os pesquisadores, também provocou o equivalente à emissão de 10,3 milhões de toneladas de CO² na atmosfera.

Em relação  a 2018, ano em que o País atingiu a menor taxa de desmatamento segundo a série histórica do estado, o aumento foi ainda maior: de 90%.

Luis Guedes Pinto, pesquisador e coordenador do Atlas atribui o fenômeno às consequências da agenda anti-ambiental do governo Bolsonaro. “Desmatar é caro, mas o Brasil vem na contramão. Há uma ação constante e agressiva do governo federal no desmonte da proteção ambiental e a derrubada de leis específicas durante a atuação do [ministro do meio ambiente] Ricardo Salles, o que resulta nesse estrondoso crescimento observado no estudo.”

Entre as baixas à proteção ambiental, Luis destaca o ataque direto a lei de proteção a Mata Atlântica – em despacho administrativo, o então ministro Salles tentou flexibilizar o texto afirmando que a lei não poderia se sobrepor ao Código Florestal.  “Por mais que o Supremo tenha derrubado o despacho, essa pauta continua sendo reforçada por alguns governos estaduais que não enxergam o risco que o desmatamento trará às suas cidades.”


A Mata Atlântica tem papel fundamental na restauração ambiental: a alta taxa de absorção de carbono do bioma auxilia em grande parte na mitigação dos gases de efeito estufa. Segundo Luis, a perda de mata nativa representa um alto grau de ameaça a todo o país nos próximos anos, principalmente nos 17 estados por onde se espraia o bioma: “Cerca de 70% da população vive próxima à área, os resultados mais visíveis serão a falta de água, o impacto na polinização e consequentemente produção de alimentos e possíveis desastres ambientais, como os ocorridos na Bahia e no Capitólio, em Minas Gerais”.

Dos 17 estados, cinco acumulam 89% do desflorestamento verificado, são eles: Minas Gerais (9.209 ha), Bahia (4.868 ha), Mato Grosso do Sul (1.008 ha) e Santa Catarina (750 ha). O pesquisador reforça a necessidade de políticas estaduais que combatam as diferentes origens do desmatamento nas áreas de proteção.

Ele também reforça a diferença entre políticas de reparação (como, por exemplo, o reflorestamento) e ações de combate ao desmatamento. “É preciso entender que desmatar e regenerar tem impactos diferentes no ecossistema. Um pedaço de mata plantado levará décadas ou séculos para atingir os mesmos percentuais de absorção de carbono que perdemos com o desmatado. Além disso, há questões irrecuperáveis, como a extinção de espécies, que afeta todo o ecossistema permanentemente.”

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