Sustentabilidade

Amanaci, onça-pintada ferida em incêndio, pode não voltar ao Pantanal

Chamas queimaram os tendões que permitem ao animal expor suas garras

Créditos: EVARISTO SA / AFP
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A onça-pintada Amanaci pode não voltar a vagar livremente pelo Pantanal brasileiro, como fazia até que os incêndios que devoraram parcialmente este paraíso de biodiversidade a ferissem gravemente, queimando suas patas.

Esta fêmea, espécime do maior felino das Américas, foi encontrada há quase dois meses escondida em um galinheiro em Poconé (Mato Grosso), onde se abrigou do fogo. Logo depois, foi transferida para o Instituto Nex, uma ONG de preservação desses animais a 100 quilômetros de Brasília e a mil de seu hábitat natural.

Desde então, tornou-se símbolo da destruição provocada pelos piores incêndios já registrados na maior área alagável do planeta. Agora, ela se recupera com um tratamento com células-tronco. Segundo veterinários, a técnica acelerou bastante a cicatrização de suas patas, que apresentavam queimaduras de terceiro grau.

“O caso da Amanaci foi muito impactante para nós. As feridas eram horríveis, ela estava com os ossos expostos. Hoje, a gente olha e diz que está linda, porque ela realmente reagiu muito bem ao tratamento com células-tronco”, disse à AFP Cristina Gianni, fundadora do Instituto Nex, no município de Corumbá de Goiás, no coração do Cerrado.

No domingo passado, os veterinários tiraram este animal sedado de sua jaula e colocaram seu robusto e musculoso corpo com manchas pretas em uma maca. Colocaram nela uma venda e removeram o curativo de suas patas para limpar e curar suas feridas, ainda em carne viva.

“A gente começou a aplicação de células-tronco justamente para estimular o crescimento do tecido, o crescimento das células e da pele para acelerar a cicatrização. Desde então, ela vem respondendo muito bem ao tratamento. Ela está se alimentando muito bem, ganhou peso, está bastante ativa”, relatou o veterinário Thiago Luczinski.

Sem poder expor as garras

Apesar da melhora, é improvável que Amanaci, que na língua tupi-guarani significa “Deusa da Chuva”, volte ao Pantanal: as chamas queimaram os tendões que lhe permitem expor as garras.

“Se ela voltar para a vida livre, vai ser um pouco prejudicada por causa da ausência dessa função [de expor as garras]. Então, a gente ainda vai ter que pesar muito bem se ela volta, ou não, mas a chance de ela ficar [em cativeiro], é bastante grande”, acrescentou o veterinário dessa ONG que atualmente abriga 23 felinos resgatados.

Entre eles, está Ousado, uma outra onça que chegou há um mês do Pantanal com queimaduras de segundo grau também nas patas. Depois de curado com terapia de ozônio, poderá ser liberado em breve.

Em 2020, os incêndios devoraram 23% da parte brasileira desse bioma que se estende até Paraguai e Bolívia.

As imagens de paisagens reduzidas a cinzas e de cadáveres de animais carbonizados horrorizaram o mundo e geraram críticas ao governo de Jair Bolsonaro. Especialistas e ONGs ambientalistas culpam o presidente pelo aumento do desmatamento e pelas queimadas na Amazônia e no Pantanal por seu discurso a favor das atividades de agropecuária e de mineração em áreas protegidas.

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