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A bola da vez

O Nordeste pode converter-se no principal polo da indústria verde no País, avalia o presidente do BNB

Foco. Câmara mira na sustentabilidade e no combate às desigualdades sociais e regionais – Imagem: BNB
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O Banco do Nordeste do Brasil é um importante aliado do setor privado e dos governos locais no financiamento dos grandes projetos de transição energética. Na entrevista a seguir, o presidente da instituição e ex-governador de Pernambuco, Paulo Câmara, fala sobre o potencial da região em ser o principal polo da indústria verde no País, por meio de projetos de geração de energia solar, eólica e também na produção de hidrogênio verde. Ele também faz o balanço do seu primeiro ano à frente do BNB. A entrevista completa está disponível no canal do ­YouTube de CartaCapital.

Carta Capital: Que balanço o senhor faz de 2023, o primeiro ano da sua gestão à frente do Banco do Nordeste?
Paulo Câmara: O Banco do Nordeste tem 71 anos, atua nos nove estados do Nordeste e também em cidades do Norte de Minas Gerais e do Espírito Santo. São mais de 2 mil municípios atendidos e cerca de 6 milhões de clientes. O seu maior desafio é superar as desigualdades sociais e regionais. O Nordeste tem 28% da população brasileira, mas representa menos de 14% do PIB do País. Nos quatro anos do governo Bolsonaro, o BNB esteve sob ameaça, inclusive, de não existir. Com a nossa vinda para cá e com a orientação do presidente Lula, o recado é muito claro: queremos que o banco volte a atuar como indutor de desenvolvimento, gerando emprego e renda para a população. Estamos finalizando 2023 e temos uma perspectiva de aplicar todos os recursos disponibilizados pelo Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE). São mais de 38 bilhões de reais em investimentos, sobretudo em obras de saneamento, mas também em geração de energia limpa e renovável. O banco foi chamado para estar dentro do novo PAC e terá uma participação ativa no novo Plano Safra. Além disso, vamos continuar a apoiar o pequeno e o microempreendedor, nossa missão maior.

CC: Quais os projetos prioritários da sua gestão, não só no social, mas também referente a grandes negócios?
PC: O PAC prevê investimentos públicos e privados, e os bancos estatais têm participação importante dentro dessa engrenagem. Cabe ao BNB investir na infraestrutura da região, dentro de parcerias com o setor privado e órgãos públicos. Só neste ano investimos 11 bilhões de reais pelo PAC, especialmente em projetos de energias renováveis, solar e eólica. Estamos tendo participação de mais de 30% em relação aos planos safras anteriores, no tocante à agricultura empresarial, e mais de 60% em relação à agricultura familiar. A participação do Nordeste no PIB agrícola brasileiro tem crescido muito. Temos dado prioridade na questão do turismo, pois a região tem um potencial enorme e esta é uma área que gera muito emprego e renda. Temos, ainda, os nossos carros-chefes, que são os programas de microcrédito produtivo orientado. Buscamos uma atuação equilibrada, com ações voltadas para o desenvolvimento social, econômico e ambiental.

CC: Para os próximos anos, qual o volume de recursos que o BNB pretende investir no Nordeste?
PC: A previsão do FNE para 2024 é de 37 bilhões de reais. É um pouco menos do que aplicamos neste ano, mas havia um estoque de 4 bilhões de reais não utilizado nos anos anteriores. Não queremos ter dinheiro guardado, e sim aplicado nos empreendimentos econômicos e sociais. Para continuar crescendo, precisamos agregar mais valores. Estamos buscando outras fontes de recursos que se somem ao fundo constitucional. Temos negociações com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, com o Banco Mundial, com o Banco da América Latina, com o Banco Europeu, com os bancos públicos nacionais, para ampliar a oferta de crédito a uma taxa de juros mais barata. Quando acrescentamos esses valores, o volume de recursos aplicados em 2023 superou os 50 bilhões de reais. Para 2024, quero chegar a 60 bilhões.

“Não há nenhum grande projeto de energia eólica ou solar no Nordeste sem a participação do banco”, observa Paulo Câmara

CC: O governo Lula aponta a reindustrialização do Brasil como prioridade. O Nordeste pode, de fato, se converter no principal polo das indústrias verdes do País? Qual papel o BNB pode desempenhar nesse processo?
PC: O Nordeste tem grande potencial e podemos ajudar muito, seja com taxas de juro mais competitivas, seja com um olhar estratégico de financiar aquilo que pode fazer a diferença em termos de escala no futuro. Da mesma forma, podemos ser um agente motivador de inovação, porque a nova industrialização exige muita inovação, muita ciência, muita tecnologia. A gente está ciente do nosso papel como agente de desenvolvimento regional, mas também não podemos esquecer que essa agenda da industrialização tem de vir acompanhada da agenda da economia do conhecimento.

CC: Quais são os projetos financiados pelo banco na área de energia renovável?
PC: Não há nenhum grande projeto de energia eólica ou solar no Nordeste sem a participação, em maior ou menor escala, do BND. Temos linhas próprias para essa finalidade. Nos últimos cinco anos, foram mais de 30 bilhões de reais em financiamentos oferecidos para o setor. Agora, a gente busca conectar esses projetos com a geração do hidrogênio verde, fundamental nessa ­agenda­ da descarbonização. Nossas equipes estão cada vez mais se aprofundando no tema para se inserir nessa cadeia dos investimentos de energias renováveis. O Brasil talvez seja, hoje, o país com o maior potencial de energia renovável do mundo, porque tem vento, sol e todas as condições de agregar esses elementos dentro das novas matrizes que vão surgir, principalmente com a chegada do hidrogênio verde.

CC: Boa parte dos equipamentos utilizados na geração de energia renovável no Brasil vem de fora, principalmente da China. Não seria o momento de atrair empresas desse setor para investir no Nordeste?
PC: Hoje, a China tem a predominância nesse setor, domina a tecnologia e consegue vender bem mais barato do que qualquer outro país do mundo. O Brasil tem uma carência de planejamento, principalmente de médio e longo prazo, mas o presidente Lula tem visão estratégica, acredita que podemos avançar. Realmente, não tem sentido tudo ser importado, quando se pode produzir esses equipamentos aqui, gerando empregos qualificados. Basta investir na capacitação dessa mão de obra e no desenvolvimento tecnológico. Nesse contexto, as nossas universidades também têm muito a contribuir. •

Publicado na edição n° 1290 de CartaCapital, em 20 de dezembro de 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A bola da vez’

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