Sustentabilidade

50 anos após conferência ambiental histórica, Estocolmo agora debate transição ecológica justa

Meio século depois, a humanidade avança a passos lentos, mas determinados, para combater a crise ambiental

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Estocolmo acolhe nesta quinta e sexta-feiras (2 e 3) uma conferência internacional para celebrar os 50 anos da primeira grande reunião multilateral sobre o meio ambiente, ocorrida na capital sueca em 1972.

Naquele ano, com 113 nações representadas em volta da mesa, foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e estabelecido o Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado desde então a cada 5 de junho.

“Estocolmo é o grande marco histórico em que esse tema entra na agenda do mundo e que se coloca a dimensão planetária dos problemas ambientais. Costumo dizer que Estocolmo 72 e Rio 92 marcam o início do século 21”, relembra o advogado e ambientalista Fábio Feldman, um dos fundadores da organização SOS Mata Atlântica nos anos 1980.

“A influência de Estocolmo foi muito grande, como, por exemplo, na Constituição de 1988 do Brasil. Ela é inspirada nos produtos formais da Conferência de Estocolmo, com a institucionalização nos governos da questão ambiental e a criação, no caso brasileiro, da Secretaria Especial de Meio Ambiente”, indica.

Avanços ocorrem, mas são lentos demais

A conscientização sobre um planeta que ficava doente e que caminhava para se tornar “inabitável”, como já definiu a ONU, levou os países do mundo inteiro a assumirem compromissos cada vez mais abrangentes – desde limitar as emissões de gases de estufa e a perda da biodiversidade até reduzir a degradação dos solos e oceanos. A transição para uma economia sustentável, compatível com os limites do planeta, ocorre numa velocidade muito inferior à necessária para evitar os cenários mais catastróficos previstos pela ciência – mas ainda assim, há razões para olhar para o futuro com otimismo, na visão de Feldman.

“Se o mundo está difícil nos temas como a mudança do clima ser o grande desafio da humanidade, a perda da biodiversidade comprometer o futuro, a má gestão dos recursos hídricos leva a crises etc, imagine se nós não tivéssemos tido 1972 e 1992?”, alega. “Os nossos temas exigem mudanças tão urgentes e radicais que elas não acontecem de uma hora para a outra. A ideia do desenvolvimento sustentável surgiu em 1992. Antes confundia-se crescimento econômico com desenvolvimento, considerava a ideia de poluição com progresso. Então, acho que houve uma mudança radical no mundo”, argumenta.

Contexto diferente

A ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, presente na Estocolmo+50, acrescenta que o mundo hoje é “outro” em diversos aspectos, com o equilíbrio de forças que se ampliou e num contexto de pós-globalização. A responsabilidade da atividade humana nas crises ambientais está estabelecida pela ciência, ao contrário de 50 anos atrás. Hoje, a sociedade no seu conjunto é incitada a fazer a sua parte, muito além dos governos.

Além disso, as consequências das crises da Covid-19 e da volta da guerra na Europa exacerbaram as desigualdades sociais no mundo, diante do imenso desafio comum de combater a mudança do clima.

“Temos um apelo por justiça climática, de um lado, e de outro de justiça social, por uma transição justa, com letras garrafais. Estocolmo+ 50 discute essa trajetória”, antecipa. “As pessoas não podem mais ficar pensando em como era o mundo lá atrás. É uma trajetória de mudança muito grande da agenda, que faz com que o multilateralismo ambiental tenha uma dimensão muito estratégica.”

Para a ex-ministra, a nova conferência na Suécia começa a marcar as bases de uma nova cooperação internacional. Um dos aspectos em jogo é que os países desenvolvidos deverão reconquistar a confiança dos em desenvolvimento.

“A guerra na Europa, pela guerra na Ucrânia, denuncia as nossas fragilidades ante à nossa interdependência enquanto países, pelas cadeias de produção e de valores, e por outro lado, a questão da energia, que é a origem do problema do clima, revela uma fortíssima pressão de curto prazo, que é a dependência energética dos países”, observa Izabella, que assinou o Acordo de Paris sobre o Clima em nome do Brasil, em 2015. “O contexto de ação de Estocolmo 2022 não é mais o que teremos no futuro, se existe um problema. Não: é como nós vamos agir.”

Manifestação com Greta Thunberg

A conferência “Estocolmo +50: um planeta sadio para a prosperidade de todas e todos” recebe nomes de peso como o secretário-geral da ONU, António Guterres, e o secretário especial americano para o Meio Ambiente John Kerry. Além de marcar as conquistas do passado, o evento visa acelerar a Década de Ação das Nações Unidas pelo desenvolvimento sustentável, prometido para 2030.

A reunião é também uma ocasião a mais para os países ampliarem o diálogo sobre os principais temas ambientais globais, discutidos em profundidade nas conferências específicas da ONU, como a COP27 no Egito, prevista para novembro. Além disso, centenas de eventos paralelos ocorrem desde o início da semana em Estocolmo, com a participação da sociedade civil. Uma manifestação está prevista na sexta-feira, com a presença da jovem ativista Greta Thunberg, que é sueca.

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