Diversidade

Você precisa torcer para o Esporte Clube Bahia. Veja os motivos

Diversidade e inclusão colocam em definitivo o ‘Bahêa’ como o time do povo – e ações refletem também na qualidade do jogo

Foto: Felipe Oliveira/ECBahia
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O Bahia é o clube do povo. Se esse é um ditado comum na boca dos torcedores e na música da arquibancada, é cada vez mais concreto ao alavancar o clube muito além do futebol.

Com projetos como o Núcleo de Ações Afirmativas, associações populares para maior inclusão social, racial e de acessibilidade, posicionamento contra a ditadura e postura ativa em datas como o Dia da Consciência Negra e o Dia Internacional contra a LGBTfobia, fica impossível não torcer (pelo menos um pouco) pelo ‘Bahêa’.

“Consideramos justas toda forma de amor”

Não é raro ver ações do Esporte Clube Bahia em datas especiais. No último 17 de maio, o time anunciou uma nova coleção de camisetas na sua loja para afirmar o compromisso de “abraçar a pluralidade” da torcida. O recado foi direto:

Diferente de ações de marketing que promovem o chamado ‘pink money’ – a apropriação de discursos favoráveis aos LGBT+ apenas para aproveitar um valoroso segmento de mercado -, o Bahia passou por uma reformulação de cultura organizacional para atingir os resultados observados. É o que diz Guilherme Bellintani, presidente do clube.

“O Núcleo elabora as estratégias, aprofunda e debate as causas. O marketing cria a forma da comunicação, e os outros departamentos, como o setor dos sócios ou a área de licenciamento das camisetas, refletem sobre toda essa política”, comentou.

Criado em março de 2018, o Núcleo de Ações Afirmativas é composto por um time diverso – que vai desde sociólogo até professores – que pensa no combate à intolerância como maneira de ressignificar o papel do clube para os torcedores e para o futebol.

Um exemplo dessa prática foi o mapeamento sobre a vivência da torcida feminina, realizado em 2018. O levantamento apontou que 40% das torcedoras assinalaram algum tipo de situação de assédio sexual no estádio nas partidas do Bahia. A resposta passou a ser de combate ativo por meio de campanhas que não focalizam apenas nas datas comemorativas, mas se distribuem ao longo do ano.

E não poderia faltar o incentivo ao time feminino, que tem seu espaço de direito afirmado na cobertura dos lances:

Para além de um espaço para discussão, Guilherme Bellintani assumiu o ECB no começo de 2018 com o desafio de mudar um complicado diagnóstico do time. “O Bahia era um clube afastado da sua torcida mais raiz, que é de base popular. Temos uma torcida muito forte, mas que sentiu o processo de elitização do consumo e do futebol”.

A nova estratégia passou por rever os preços, as políticas, a inclusão e formular uma comunicação certeira nas redes sociais. 

Nos negócios, o EBC rompeu o contrato com a Umbro, empresa inglesa de material esportivo, para criar a ‘Esquadrão’ – marca própria que conseguiu estruturar produtos com preços mais baratos.

O programa para ser associado ao clube e ter acesso privilegiado ao Fonte Nova também mudou. Se o plano mais básico era antes na casa dos R$ 90, torcedores de baixa renda puderam ter a carteirinha pagando R$ 45 mensais depois das mudanças implementadas.

Outros olhares

Machismo, racismo, homofobia e pautas sociais fazem parte do futebol além dos exemplos negativos recorrentes – os infelizes gritos de  “viado”, o xingamento racista aos jogadores negros e a objetificação das torcedoras. De acordo com a nova visão do time, porém, é possível trabalhar uma mudança na realidade por meio do esporte.

“Essas pautas são do futebol se a gente olha para ele como um fenômeno cultural e como uma forma de interação social, de poder de comunicação, envolvimento de emoções e desejos no coletivo”, opina Bellintani. 

Se a política é inevitavelmente assunto de discussão no cotidiano, ações como o Abril Indígena mostraram posicionamento pela demarcação de terras por parte do clube, especialmente após os direitos dos índios serem colocados em xeque pelo governo Bolsonaro.

Nem a ditadura passou impune pelo ECB – e eles falaram da própria história. No dia 31 de março, o clube postou um vídeo contando sobre as mudanças internas depois que eles destituíram a família Guimarães dos cargos de poder do time, local que ocuparam por três décadas, de acordo com a publicação.

O recado, na data do aniversário do Golpe de 64, foi claro: “De Democracia a gente entende. Hoje e sempre: #NuncaMais”.

A campanha mais popular, no entanto, foi a realizada pelo mês da Consciência Negra em novembro de 2018. Em alguns jogos pelo Campeonato Brasileiro, os jogadores entraram com camisetas especiais homenageando 20 nomes históricos do movimento negro no Brasil. A homenagem se conecta, novamente, à história do clube.

Roger Machado, que comanda o time, é o único técnico negro da série A do Campeonato Brasileiro – além do estado baiano possuir mais de 80% da sua população autodeclarada negra, segundo o IBGE.

“O preconceito no futebol é como o preconceito no Brasil, ele existe, mas é velado. E é tanto relacionado à questão da raça como da classe social”, afirmou o treinador à Folha de S. Paulo.

Questionado sobre o contato com times do resto do Brasil, Ballintani afirmou que houve troca de informações para ações conjuntas – como uma contra o racismo no jogo com o Grêmio, que acontece no próximo dia 01 de junho. 

O time vê um reflexo da política interna dentro dos campos. Campeão do Campeonato Baiano em 2019, lutando no top 10 do Campeonato Brasileiro até agora e progredindo na Copa do Brasil – eliminou o São Paulo nesta quarta-feira 28 -, a qualidade e preparo dos jogadores são diretamente ligados ao caixa, que aumentou com as novas práticas do clube.

Segundo o presidente, em 2017 o Esporte Clube Bahia teve uma receita de R$95 milhões. Em 2018, o valor passou para R$ 136 milhões. A previsão é que 2019 gere R$ 160 milhões – o que seria um aumento de cerca de 68% em dois anos.

A aproximação da base torcedora, do respeito às diferenças e das ações concretas, para Ballintani, pode ser definido por um ciclo: quanto mais investimento, mais futebol, mais dinheiro, e mais torcida engajada. É e sempre foi, de fato, muito mais do que um jogo. 

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