Sociedade

Violência contra mulheres indígenas mais que triplica em uma década

A vulnerabilidade das mulheres indígenas fica ainda mais evidente ao ser comparada com a média entre brasileiras de todas as raças no mesmo período

Violência contra mulheres indígenas mais que triplica em uma década
Violência contra mulheres indígenas mais que triplica em uma década
Ilustração: Victoria Sacagami
Apoie Siga-nos no

Um levantamento inédito da Gênero e Número revela que os registros de violência contra mulheres indígenas aumentaram 258% entre 2014 e 2023. A vulnerabilidade dessa parcela da população fica ainda mais evidente quando compara-se com a média nacional de 207% entre brasileiras de todas as raças no mesmo período.

Os dados, extraídos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do Ministério da Saúde, referem-se a três formas de violência: física, psicológica e sexual. É nessa última que a discrepância racial aparece de maneira mais gritante. Os registros de violência sexual – que englobam casos de assédio, estupro, pornografia infantil e exploração sexual – saltaram para 297%. entre as mulheres indígenas. Já entre as brasileiras em geral, o aumento chegou a 188%.

Chama atenção também o perfil das vítimas desse tipo de abuso: metade delas são meninas menores de 14 anos. Nessa faixa etária, qualquer ato de natureza sexual configura estupro de vulnerável, já que a lei estabelece os 14 anos como a idade mínima de consentimento. No total, 79% das vítimas são menores de idade, versus 66% entre a população feminina em geral.

Entre os agressores, os companheiros e ex-companheiros se destacam, cometam eles violência física, psicológica ou sexual, um padrão que se repete em toda a população brasileira. Essa proporção é ainda maior entre mulheres indígenas, o que não deve ser tomado como sinal de um problema cultural. É sinal, sim, da vulnerabilidade a que essas mulheres estão sujeitas pela falta de políticas de prevenção e acolhimento, assim como o racismo que embarreira sua autonomia financeira e normaliza a violação de seus direitos.

Os números escancaram a persistente incapacidade do Estado brasileiro de proteger e  amparar uma camada da população historicamente relegada a toda sorte de violências e apagamentos, dentro e fora das aldeias. Mulheres que seguem sendo vitimadas pelas mãos de forasteiros e parentes, vivendo às margens da proteção prevista em legislações que não as alcançam ou as negligenciam.

250429-violencia-mulheres-indigenas

METODOLOGIA

Os dados sobre as notificações de violência contra mulheres indígenas foram retirados do DataSUS no dia 19 de março de 2025 e são referentes ao período de 2014 a 2023. Foram realizados cruzamentos por sexo, raça, tipos de violência, idades em categorias e o agressor.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.

O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.

Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.

Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo