Sociedade

Preconceito X diversidade

Ivã Bocchini A definição do “outro” começa com a definição de “si”. Os ocidentais se enxergam vivendo na modernidade, um tempo linear em que a mudança é a tônica. Os índios, em oposição, se crê que vivem no ciclo de suas tradições, puras e imutáveis. […]

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Ivã Bocchini

A definição do “outro” começa com a definição de “si”. Os ocidentais se enxergam vivendo na modernidade, um tempo linear em que a mudança é a tônica. Os índios, em oposição, se crê que vivem no ciclo de suas tradições, puras e imutáveis. Aos índios, portanto, se nega a História, o que significa dizer que a eles se nega o presente: ou eles vivem presos a uma suposta cultura primitiva e original ou não são mais índios. Essa é a fonte do preconceito mais antigo do Brasil.

Nunca houve, no entanto, uma sociedade que vivesse parada no tempo. Marcio Meira, antropólogo e ex-presidente da Funai, tentou explicar aos repórteres do Roda Viva, certa vez, que cultura não é objeto de museu passível de preservação e restauração. Não existe cultura pura. A natureza do ser humano é justamente a vida em sociedade, ou seja, é a vida em diversidade.

Tomemos o exemplo mais radical. Centenas de povos indígenas vivem em condição de isolamento geográfico em relação à sociedade urbana. Estariam eles vivendo no passado? Não, trata-se de uma escolha histórica. Eles optaram, em dado momento, por se afastar dos demais. Mas a qualquer tempo, eles podem tomar novos rumos – como o fazem frequentemente – e resolver aparecer aos outros, simplesmente porque mudam. Mudam de opinião, mudam de vontade.

Se aceitarmos que a História não é privilégio da sociedade ocidental, mas uma condição da vida em diversidade, poderemos superar o estranhamento – e o preconceito decorrente – que nos causa ver um índio vestido andando pela rua de uma cidade qualquer. Mas para isso é preciso conhecer a História dos diferentes povos indígenas e parar de falar o tempo todo em Índio de forma genérica e abstrata. Tupi, Pano, Jê, Yanomami, Mura, Aruak, Tukano, Karib e Tikuna devem ganhar espaço nas salas de aula, nos filmes, nas músicas e nos livros, mesmo que para isso tenhamos que diminuir os capítulos destinados aos gregos, romanos, egípcios, europeus e norte-americanos.

*É coordenador regional da Funai em Humaitá (AM)

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