Sociedade

Unidas, CUT e Força Sindical lançam nova entidade: IndustriALL Brasil

Em campos políticos distintos, as maiores centrais trabalhistas criam instituição para debater os rumos do desenvolvimento industrial

As centrais sindicais CUT e Força Sindical: Fotos: Rovena Rosa/Agência Brasil
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As duas maiores centrais sindicais do país, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical, acabam de fundar, juntas, uma nova entidade trabalhista: a IndustriALL Brasil. O lançamento ocorreu nesta terça-feira 17, por transmissão ao vivo na internet. Os idealizadores do projeto descrevem que o objetivo é articular as organizações representativas em debates sobre políticas para o desenvolvimento industrial.

 

A iniciativa é inspirada no modelo da IndustriALL-Global Union, entidade internacional criada em 2012, que tem a participação de cerca de 50 milhões de trabalhadores em 140 países, nos setores de mineração, energia e manufatura. Em nível global, a organização diz que “desafia o poder das empresas multinacionais” e propõe negociações e discussões por “um novo modelo econômico, baseado na democracia e na justiça social”.

No Brasil, a CUT e a Força Sindical estimam reunir, juntas, 37,8 milhões de trabalhadores na base e 5,7 mil sindicatos. Desde os anos de 1990, as duas centrais sindicais atuavam em campos políticos distintos. Porém, nos últimos tempos, passaram a trabalhar em parceria, como nas manifestações contra a reforma da Previdência em 2019. Agora, na IndustriALL Brasil, colocarão lado a lado suas representações em seis categorias: metalurgia, química, construção civil, alimentação, energia e têxtil-vestuário.

Quem vai liderar essa empreitada é o metalúrgico Aroaldo Oliveira, de 42 anos.

Formado em Ciências Sociais pela Fundação Santo André, ele trabalha em uma montadora da empresa alemã Mercedes-Benz e entrou no movimento sindical em 1999. Oliveira passou a atuar como dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e, hoje, torna-se presidente da IndustriALL Brasil em um mandato até 2022.

Em entrevista a CartaCapital, Oliveira diz que o objetivo da IndustriALL é articular as entidades trabalhistas do ramo da indústria, porque em sua visão elas trabalham de forma separada. A ideia, segundo ele, é atrair a presença de outras centrais sindicais.

Já existe uma articulação entre essas organizações: o Fórum Nacional das Centrais Sindicais reúne a CUT, a Força Sindical, a Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), a Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), a Central Sindical e Popular Conlutas (CSP-Conlutas), a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a Intersindical, a Nova Central Sindical e a União Geral de Trabalhadores (UGT).

Para Oliveira, o diferencial da IndustriALL Brasil é “pegar essas experiências para criar uma sinergia”, mas de forma institucional, o que não é o caso do Fórum Nacional das Centrais Sindicais, segundo ele afirma.

“O que estamos tentando é fazer algo mais institucional. Dando institucionalidade a esse debate, conseguimos aprofundar melhor e criar uma convergência maior no que nos une”, afirmou.

Lógico, as centrais sindicais têm diferenças. Têm divergências. Se não tivessem, estavam todas na mesma central. Aqui a tentativa é traçar o que nos une, diz Oliveira.

A posição da IndustriALL Brasil sobre o governo do presidente Jair Bolsonaro já está demarcada: para Oliveira, a atual gestão federal está desmontando as mobilizações pela reindustrialização. “Ele vem com um discurso ultraliberal, e isso nós temos que combater. Temos que deixar bem claro que nós somos contra.”

A nova entidade já tem direção formada, estatuto, contas no Twitter e no Instagram e sede, na cidade de São Bernardo do Campo, na Região Metropolitana de São Paulo. O local físico está estruturado e é “neutro”, diz ele, em um prédio que não pertence a nenhuma das organizações trabalhistas. No entanto, as reuniões ainda ocorrem virtualmente, afirma, devido à pandemia.

Ainda não existe um calendário de ações pronto. O primeiro passo será elaborar um estudo com um diagnóstico sobre o cenário industrial no Brasil. Não há previsão de data para o início das pesquisas, mas Oliveira estima que as análises serão entregues em 2021.

Neste tempo, a IndustriALL Brasil tentará estreitar o relacionamento com universidades e parlamentares. O plano se estende em dialogar até com associações de empresários, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), mas Oliveira diz que ainda não houve nenhum encontro.

“A gente tem divergências, a gente sabe o que aconteceu no passado recente do Brasil. Isso não quer dizer que a gente não tem que pautar e começar a discussão, como sempre o movimento sindical fez”, afirma.

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