Por Afonsinho
A queda do treinador da Seleção pode dar, do vestiário para dentro, a “chacoalhada” que o futebol brasileiro precisa. Pode também ser uma grande decepção, mas não parece. A começar pelo presidente da CBF. Surpreendente em todos os sentidos.
Tido como um vice-presidente apropriado para não incomodar o titular, de saída pela sua idade, assumiu justamente por esse argumento. Tudo fazia crer que seria um teleguiado do antecessor defenestrado. Apresenta-se com a transparência mais inesperada, falando direto e aberto, com simplicidade, como deve ser um presidente nesse sistema.
Homem do esporte anuncia-se e declara-se conhecedor do métier. Não precisa dissimular, assume que examina a lista de convocados, por exemplo, o que não significa, necessariamente, interferência. Outros aparentam dar independência aos dirigidos, que não a têm mesmo para elaborar as convocações.
João Saldanha prezava resolver as coisas do esporte entre os esportistas. Criticava e até ridicularizava certas “figuras”, mas reconhecia alguns como autênticos do meio. Tomara que seja isso mesmo. A mudança de treinador, caso não haja motivo obscuro, é oportuna, sim. É que há tempo para alguma coisa.
O próprio demitido reconhecia a fragilidade no trabalho, mas se defendia. “Não vejo razão para mudar o planejamento.”
Saiu o treinador e pode ser que fique o planejamento. Pelo menos na sequência de jogos procurava seguir uma ordem crescente de dificuldades. A escolha de Mano repetiu a do Dunga, que não tinha nehuma experiência como treinador e foi chamado para “esquentar” o lugar do que seria efetivo.
Dunga fez um bom trabalho, conquistou a efetividade, não tinha estofo para resistir às pressões. Ficou isolado. Depois que adquiriu, na marra, o traquejo necessário, ficou um tempão na estufa. Deve voltar agora a dirigir equipes, tem liderança.
Assisti à declaração do então presidente depois da última Copa. “Mudar seria alterar, de repente, a direção durante um voo.” Atitude oposta à que acaba de fazer Marin.
A discussão do tema treinador, em maior profundidade, torna-se necessária, é um ponto-chave nesse momento. Não apenas a escolha de um nome, mas o significado da função.
O treinador já foi absoluto, nem preparador físico havia. Passou o tempo do “homão”. Assim era conhecido o treinador, mesmo já trabalhando com pequena comissão de preparador, médico, massagista e roupeiro. Havia em muitos casos um sapateiro. Bolas e chuteiras eram de couro.
O “homão” do Flamengo da época pegou literalmente com as mãos o atacante Dario (apareceu na posse do atual presidente do STF) e botou para dentro das quatro linhas. O mineirinho, depois nosso companheiro no Olaria, havia caído machucado rente ao banco de reservas.
A explosão do esporte-negócio foi tornando as comissões mais complexas. Os dirigentes contratam executivos para dirigir setores dos clubes tratando apenas das transações. Investidores aplicam valores no esporte e ficam ainda mais distantes dos campos. Aqui uma contradição. Com mais recursos o espetáculo empobrece.
Passaram a delegar a um espertalhão, que faz múltiplas funções, o controle do futebol. Como sempre, o barato sai caro.
Vanderlei Luxemburgo e Felipão tornaram-se os antigos “managers”. O primeiro faz um bom trabalho no Grêmio, mas seu interesse é administrar. A definição do papel de treinar equipes tornou-se imprescindível. Uma função muito específica.
Surgiu a necessidade de um coordenador que faça a ligação entre os jogadores e os outros setores. A escolha do técnico da Seleção toma grande importância neste momento, vai mostrar o que pensa a direção da CBF. Cabe a pergunta. Por que a maioria dos técnicos tem sido de zagueiros?
Prevalece a ideia equivocada de treinamento como adestramento, repetição mecânica de gestos. O público reclama de futebol chato, repetitivo, previsível.
Houve o tempo de Zizinho, Didi, Telê e outros. Equipes infinitamente mais inventivas, criativas, com repertório rico de opções e de preferência por jogadores de boa técnica, no momento preteridos por força física.
Caso o anúncio do técnico tenha sido deixado para janeiro, à espera de Tite, estamos mal, embora ele viva um bom momento e o Corinthians também. Guardiola causou sensação, mas parece descartado pelas declarações do presidente e dele próprio. Não haveria tempo para adaptação.
Aqui a discussão misturou corporativismo com xenofobia. Traria grande contribuição ao futebol brasileiro, como também em outras áreas, o momento é de atrair, com critério, bons profissionais. Necessidade imperiosa de trazer árbitros internacionais. Por que não se fala nisso que é tão flagrante?
Nossa conclusão, um treinador internacionalizado (Guardiola e outros) para assumir a Seleção Olímpica. Felipão como coordenador, dando condições de trabalho para o técnico de campo. Abel e Muricy são os mais destacados no momento.