Sociedade

Um ato contra a impunidade no Pará

No interior do estado, familiares dos ambientalistas Zé Cláudio e Maria querem novo julgamento do homem acusado pelo assassinato do casal

Um ato contra a impunidade no Pará
Um ato contra a impunidade no Pará
José Cláudio: o acusado de encomendar sua morte continua solto
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No dia 24 de maio completam-se quatro anos do brutal assassinato do casal de ambientalistas e extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, em Nova Ipixuna, no interior do Pará. Eles foram mortos em uma emboscada, por dois pistoleiros, dentro do assentamento onde viviam, o Agroextrativsta Praialta Piranheira.

Enquanto os pistoleiros foram presos e condenados em um julgamento em 2013, o acusado de ser o mandante, o fazendeiro José Rodrigues Moreira, foi inicialmente absolvido. Depois, o julgamento foi anulado pelo Tribunal de Justiça do Pará, e agora ele está foragido, vivendo, segundo testemunhas, justamente dentro do assentamento. Conforme denunciamos em CartaCapital, a polícia do Pará não realizou, ainda, nenhuma tentativa de prender o mandante dos assassinatos desde que o mandado foi expedido pelo tribunal.

A irmã de Maria, Laisa Santos Sampaio, que vive dentro do assentamento, sofre ameaças de familiares de Rodrigues e está inscrita no Programa de Proteção a defensores de Direitos Humanos da Secretaria de Direitos Humanos do governo federal. Outros assentados passaram, nos últimos meses, a também sofrerem ameaças de familiares de Rodrigues, que teriam formado uma quadrilha para grilar terras e expulsar os agricultores-extrativistas. O Incra em Marabá (PA), acusa um assentado que não quis se identificar, é conivente com as práticas e, inclusive, “assentou”, ilegalmente o mandante do assassinato mesmo quando ele estava na cadeia, antes de ser foragido.

Anualmente, familiares e movimentos sociais da região se unem numa grande romaria até o local do assassinato e a residência onde viva o casal. No lote, assistem filmes, rezam, fazem uma assembleia e discussões políticas sobre como salvar o projeto agroextrativista do assentamento, e preservar a floresta da inteira destruição, como era a luta de Zé Cláudio e Maria. Sempre, no final, fazem uma visita à Majestade, como Zé Cláudio chamava a mais antiga castanheira de seu lote.

“Esse ano mais uma vez vamos gritar não à impunidade! Dia 23 e 24 de maio, ano em que se completa quatro anos sem Zé Cláudio e Maria, vamos marchar pela justiça”, escreveu no Facebook Claudelice Santos, irmã de Zé Cláudio e uma das organizadoras do ato. “Não faremos nem um minuto de silêncio, gritaremos não à impunidade!”

Os familiares lançaram uma campanha online para arrecadar fundos para o ato, geridos diretamente por eles, e que inclui transporte para o deslocamento da população da região em ônibus fretado, alimentação e infraestrutura. As contribuições podem ser feitas até o dia 6 de maio.

No ano passado, segundo relatório da organização Global Witness, o Brasil foi, novamente, o país mais violento do mundo em termos de assassinatos de ambientalistas. A impunidade é uma das principais causas dessa violência. “Além de mostrar a nossa resistência, o ato marca a nossa indignação com a impunidade, que gera mais violência e funciona como carta branca para os assassinatos continuarem”, explica Claudelice.

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