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Temer avalia distribuir senhas para limitar entrada de venezuelanos

Medida poderia restringir acesso de imigrantes a Roraima para menos de 200 por dia. Objetivo seria organizar chegada de venezuelanos

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Um dia após autorizar o uso das Forças Armadas em Roraima, dada a crise migratória na fronteira com a Venezuela, o presidente Michel Temer disse nesta quarta-feira 29 que o governo estuda a possibilidade de distribuir senhas para organizar a entrada de venezuelanos no Brasil.

Em entrevista à Rádio Jornal, de Pernambuco, o presidente afirmou que, atualmente, entram entre 700 e 800 imigrantes da Venezuela por dia no país, o que tem criado problemas para a vacinação e para a organização dos refugiados em território brasileiro.

Dessa forma, em reunião com ministros nesta terça-feira para debater a crise migratória em Roraima, foram discutidas formas de restringir o número de venezuelanos que cruzam a fronteira diariamente, explicou o presidente. “Pensamos em colocar senhas, de maneira que entrem de 100 a 200 [venezuelanos] por dia, a fim de organizar um pouco mais essas entradas”, afirmou.

Segundo Temer, além de controlar a entrada de imigrantes, a medida visa também dar melhores condições para a prestação de serviços públicos tanto para brasileiros como para os venezuelanos que chegam ao Brasil pedindo refúgio.

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A proposta, contudo, teria sido apenas cogitada pelo gabinete de Temer, não havendo qualquer plano concreto por enquanto, informou o secretário especial de Comunicação Social da Presidência, Márcio Freitas, à Agência Brasil.

Na entrevista, o presidente reiterou críticas ao governo de Nicolás Maduro na Venezuela, descrevendo como “inadmissível” o que acontece no país vizinho, porque está “colocando em desarmonia todo o continente sul-americano”.

Temer também criticou Caracas por ter recusado ajuda humanitária brasileira, incluindo o envio de alimentos e remédios ao país. Segundo ele, isso poderia ter evitado tantas migrações. “O governo recusa lá e os venezuelanos vêm para cá. Nossa política é acolher aqueles que entram no país, mas o ideal seria que eles recebessem nossa ajuda humanitária e lá pudessem permanecer”, acrescentou.

Sobre o decreto autorizando o emprego das Forças Armadas em Roraima, publicado nesta quarta-feira com objetivo de reforçar a segurança no estado, o presidente disse que a medida foi feita pensando nos cidadãos brasileiros que vivem na região. “Tudo o que fazemos é em função do cidadão brasileiro. Mandamos mais de 200 milhões de reais para saúde e alimentação [em Roraima]. Estamos dando todo o apoio aos venezuelanos com vistas também a proteger os serviços estaduais prestados aos brasileiros”, afirmou.

Com a publicação do decreto, os militares já podem atuar nas fronteiras norte e leste de Roraima, bem como nas rodovias federais. Inicialmente a medida valerá por duas semanas, com fim previsto para 12 de setembro.

O êxodo venezuelano

Ao todo, 2,3 milhões de venezuelanos vivem atualmente fora de seu país, ou 7,5% da população, sendo que 1,6 milhão deixaram a Venezuela depois de 2015. Segundo a ONU, o êxodo venezuelano já se aproxima de um momento de crise semelhante à tensão migratória no Mediterrâneo.

No Brasil, Roraima é a principal porta de entrada de refugiados venezuelanos. Centenas de pessoas dessa nacionalidade entram por dia no país pela fronteira com o estado, fugindo da grave crise econômica, do desemprego e da escassez de alimentos e remédios na Venezuela.

Desde 2015 mais de 120 mil imigrantes entraram no Brasil vindo do país vizinho, e metade deles permanece em território brasileiro. Mais de 16 mil venezuelanos pediram refúgio somente em Roraima.

Temer já havia assinado um decreto em fevereiro deste ano em que reconhecia a “situação de vulnerabilidade” no estado do norte do país, e editou uma medida provisória em que previa ações de assistência para os refugiados venezuelanos.

O governo federal lançou ainda a chamada Operação Acolhida, uma força-tarefa logística e humanitária para tratar da crise migratória na região. Entre abril e julho deste ano, 820 venezuelanos foram levados de Roraima para sete cidades.

A previsão da Casa Civil da Presidência da República, que tem coordenado a ação, é de que, somando os meses de agosto e setembro, o programa de interiorização inclua mais de mil venezuelanos.

Diante da crise, autoridades roraimenses, incluindo a governadora Suely Campos (PP), vêm defendendo o fechamento da fronteira com a Venezuela, alegando que o estado está sobrecarregado. A medida, no entanto, é veementemente descartada pelo governo Temer.

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