Sociedade
Tecnologia e Segurança Pública
O Seminário do projeto Brasilianas, revelou um quadro paradoxal: não falta tecnologia para o setor; o que falta é seu uso adequado
O Seminário “Tecnologia e Segurança Pública”, do projeto Brasilianas, revelou um quadro paradoxal: não falta tecnologia para o setor; o que falta é seu uso adequado.
O setor padece de problemas sérios de gestão, de indicadores pouco confiáveis, de uma segmentação que faz com que nem as duas polícias – Civil e Militar – se comuniquem entre si.
***
A primeira falta de sintonia é no próprio inquérito policial.
Jefferson Evangelista, perito criminal médico da Polícia Federal, informou que, no plano tecnológico, a PF está no nível das melhores polícias do mundo.
Já o delegado Daniel Barcellos Ferreira, delegado mineiro, considera haver um fetiche pela tecnologia. Esse modelo subordinou a investigação ao processo penal. A ação de investigar – que deveria ser indivisível – foi dividida em carreiras, dentro de uma estrutura que copia o processo penal em sentido estrito.
Daniel critica a enorme quantidade de especializações técnicas previstas na carreira policial. E questiona a ideia de que as provas objetivas (aquelas decorrentes de laudos técnicos) possam ser consideradas como definitivas, mesmo se dissociadas da investigação como um todo.
***
O problema é a falta de normas de procedimento, de gestão de processos para trabalhar os inquéritos.
Confira-se a figura do escrivão e do agente de polícia – cópia do processo penal.
O agente de polícia conversa com uma testemunha e recolhe elementos de investigação.
Estrega o relatório para um delegado, que, para ter certeza sobre o depoimento, exige que a testemunha o repita para um escrivão.
O mesmo agente volta à testemunha com uma intimação para depor na delegacia.
Muitas vezes o escrivão pede para o agente ficar ao lado da testemunha, para evitar que ela diga menos do que disse na rua.
***
Não apenas isso. Luca Gabrielli, da SWG Smartercities Sales da IBM, mostrou as inúmeras ferramentas de gestão das chamadas “cidades inteligentes” – incluindo aquelas voltadas para a segurança pública.
Mas Vasco Furtado, professor do Centro de Ciências Tecnológicas da Universidade Federal de Fortaleza, dissecou a síndrome da tecnologia continuidade e nem uso eficiente das tecnologias.
Na década de 90 houve os primeiros investimentos em TIC (Tecnologia de Informação e Comunicação) para segurança pública.
Em 2007 tinham-se os mesmos problemas da década de 90 e houve o diagnóstico de que a tecnologia não prestava. Toca, então, a comprar outros sistemas.
O problema não era tecnologia, mas o fracasso na implementação, com ausência de procedimentos, de métodos, formação insuficiente de recursos humanos.
É o caso das estatísticas, amplamente insuficientes conforme atesta Samira Bueno – coordenadora de pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A grande esperança dos especialistas é com a Lei de Transparência, que obrigará todos os setores da administração pública a disponibilizarem dados na Internet.
Com isso, espera-se o desenvolvimento de aplicativos que permitam ao cidadão ser um demandante e um analista dos dados de segurança.
Será a única maneira de romper a resistência das Secretarias de Segurança a disponibilizarem seus dados.
Últimos artigos de Luis Nassif:
O Seminário “Tecnologia e Segurança Pública”, do projeto Brasilianas, revelou um quadro paradoxal: não falta tecnologia para o setor; o que falta é seu uso adequado.
O setor padece de problemas sérios de gestão, de indicadores pouco confiáveis, de uma segmentação que faz com que nem as duas polícias – Civil e Militar – se comuniquem entre si.
***
A primeira falta de sintonia é no próprio inquérito policial.
Jefferson Evangelista, perito criminal médico da Polícia Federal, informou que, no plano tecnológico, a PF está no nível das melhores polícias do mundo.
Já o delegado Daniel Barcellos Ferreira, delegado mineiro, considera haver um fetiche pela tecnologia. Esse modelo subordinou a investigação ao processo penal. A ação de investigar – que deveria ser indivisível – foi dividida em carreiras, dentro de uma estrutura que copia o processo penal em sentido estrito.
Daniel critica a enorme quantidade de especializações técnicas previstas na carreira policial. E questiona a ideia de que as provas objetivas (aquelas decorrentes de laudos técnicos) possam ser consideradas como definitivas, mesmo se dissociadas da investigação como um todo.
***
O problema é a falta de normas de procedimento, de gestão de processos para trabalhar os inquéritos.
Confira-se a figura do escrivão e do agente de polícia – cópia do processo penal.
O agente de polícia conversa com uma testemunha e recolhe elementos de investigação.
Estrega o relatório para um delegado, que, para ter certeza sobre o depoimento, exige que a testemunha o repita para um escrivão.
O mesmo agente volta à testemunha com uma intimação para depor na delegacia.
Muitas vezes o escrivão pede para o agente ficar ao lado da testemunha, para evitar que ela diga menos do que disse na rua.
***
Não apenas isso. Luca Gabrielli, da SWG Smartercities Sales da IBM, mostrou as inúmeras ferramentas de gestão das chamadas “cidades inteligentes” – incluindo aquelas voltadas para a segurança pública.
Mas Vasco Furtado, professor do Centro de Ciências Tecnológicas da Universidade Federal de Fortaleza, dissecou a síndrome da tecnologia continuidade e nem uso eficiente das tecnologias.
Na década de 90 houve os primeiros investimentos em TIC (Tecnologia de Informação e Comunicação) para segurança pública.
Em 2007 tinham-se os mesmos problemas da década de 90 e houve o diagnóstico de que a tecnologia não prestava. Toca, então, a comprar outros sistemas.
O problema não era tecnologia, mas o fracasso na implementação, com ausência de procedimentos, de métodos, formação insuficiente de recursos humanos.
É o caso das estatísticas, amplamente insuficientes conforme atesta Samira Bueno – coordenadora de pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A grande esperança dos especialistas é com a Lei de Transparência, que obrigará todos os setores da administração pública a disponibilizarem dados na Internet.
Com isso, espera-se o desenvolvimento de aplicativos que permitam ao cidadão ser um demandante e um analista dos dados de segurança.
Será a única maneira de romper a resistência das Secretarias de Segurança a disponibilizarem seus dados.
Últimos artigos de Luis Nassif:
Um minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.
Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.
Assine a edição semanal da revista;
Ou contribua, com o quanto puder.