Setembro Amarelo: o drama invisível do suicídio de idosos no Brasil

O descaso do poder público com a saúde dos idosos traz a eles a sensação de abandono e invisibilidade social

Apoie Siga-nos no

Setembro Amarelo é o mês de alerta ao suicídio no Brasil. Os últimos dados divulgados pelo Ministério da Saúde, referentes a 2017, indicam que os idosos com mais de 70 anos lideram o ranking no País – são quase 9 casos a cada 100 mil habitantes. O abandono ao fim da vida é uma das principais causas.

“Há uma invisibilidade dos idosos na sociedade”, argumenta Bruno Branquinho, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Os mais velhos são um custo para o Estado e representam um gasto maior com saúde e previdência. Isso faz com que eles se tornem invisíveis aos olhos do poder público e o combate ao suicídio dessa população acaba muito falho.”

O suicídio de idosos ganhou relevância depois da tramitação no Congresso da reforma da Previdência. Vários críticos das mudanças na aposentadoria lembraram do exemplo no Chile, país que promoveu uma radical alteração no sistema previdenciário e instituiu a capitalização, defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Passados 35 anos, o vizinho lidera o ranking na América Latina de suicídios de maiores de 70 anos. São 16,8 por 100 mil habitantes.

 “Qualquer coisa que possa diminuir a qualidade de vida de um idoso, e isso inclui a reforma da Previdência, pode levar ao suicídio”, avalia Branquinho. “A partir do momento em que eles não conseguem pagar por remédio, e assim cuidar das doenças físicas e mentais, há uma tendência a um aumento nas taxas. Não podemos afirmar a causa e consequência, mas há explicações possíveis.”

O geriatra do Hospital das Clínicas, Milton Crenitte, acredita que a reforma previdenciária tende a provocar um aumento de suicídios no Brasil, assim como ocorreu no Chile. Ele cita a falta de suporte social como uma das principais causas de mortes e lembra os problemas da saúde pública. “A aposentadoria para muitos idosos é a única forma de sustento. Às vezes, a família inteira depende desses proventos. Como o SUS não dá conta de atender a todos, algumas instituições de saúde privada aceitam uma porcentagem da aposentadoria como pagamento. Isso pode acabar quando as novas regras entrarem em vigor.”

A liberação do porte de armamentos é outro estímulo ao suicídio, afirma Crenitte. Nos Estados Unidos, revela uma pesquisa do instituto Everytown for Gun Safety, metade dos suicídios no país é causada por armas de fogo. As chances são três vezes maiores nos estados mais flexíveis ao porte do que naqueles que restringem o acesso do cidadão comum. “A arma de fogo no suicídio é a mais letal de todas. Um sentimento relacionado é a impulsividade. Se o suicida não tem algo letal por perto, pode ser que perca o impulso e desista”, ressalta.


Segundo o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom, é possível evitar o suicídio. Para tanto, os países precisam mobilizar-se para implementar ações eficazes e políticas públicas eficientes. A meta da OMS é reduzir em 10% os casos no planeta até 2020.

Leia também

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.