Sociedade

Ser negro no Brasil aumenta em 2,6 vezes risco de ser assassinado, aponta pesquisa

Segundo novo Atlas da Violência, a taxa de homicídios entre negros foi de 29,2/100 mil, enquanto a de não negros foi de 11,2/100 mil

Ser negro no Brasil aumenta em 2,6 vezes risco de ser assassinado, aponta pesquisa
Ser negro no Brasil aumenta em 2,6 vezes risco de ser assassinado, aponta pesquisa
Manifestantes protestam contra o racismo e o genocídio do povo negro
Apoie Siga-nos no

Em 2019, o risco de uma pessoa negra ser assassinada foi 2,6 vezes maior do que o de qualquer outra pessoa no Brasil. É o que aponta o Atlas da Violência 2021, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado nesta terça-feira 31.

Essa é a segunda maior taxa do período, atrás apenas de 2017, quando a diferença era de 2,7 vezes.

Ao todo, negros representaram nada menos do que 75,7% das vítimas de homicídios no País naquele ano – . Os dados acompanham uma tendência já observada: nos últimos 10 anos, um brasileiro negro teve, pelo menos, o dobro de chance de morrer violentamente do que um não-negro.

 

Em percentuais, a taxa de homicídios entre negros foi de para 29,2 a cada 100 mil. Entre os não-negros cai para 11,2. Na comparação com 2017, houve melhora. Mas essa diferença tem sido atribuída à deterioração dos registros oficiais de homicídios do Ministério da Saúde.

“Quando olhamos para estes números, é como se tivéssemos dois países diferentes. O Brasil da população negra e o Brasil da população não negra”, Samira Bueno, diretora-executiva do FBSP, uma das autoras do Atlas. Para ela, os dados refletem uma acentuação do racismo no Brasil na última década. “Isso fica claro quando a melhoria dos indicadores se verifica apenas para a parcela da população não negra.”

Ao todo, negros representaram nada menos do que 75,7% das vítimas de homicídios no País

Outra prova disso, avalia a pesquisadora, são os números absolutos, que indicam um crescimento de quase 2% nos homicídios da população negra: passando de 33.929 vítimas em 2009 para 34.446 em 2019. No mesmo período houve uma redução de 33% no assassinato de não-negros: de 15.249 mortos para 10.217.

Ao contrário da crença de que os negros morrem mais por serem pobres, os microdados da violência brasileira demonstram que o racismo tem papel vital na alta taxa de homicídios entre negros. “Controlando os dados por inúmeras características de escolaridade, local de residência e tudo mais, um negro vai ter sempre 23% de chance a mais de ser assassinado com um não negro. , detalha Daniel Cerqueira, diretor-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves e um dos autores do Atlas. “O índice é maior são justamente onde as regiões têm heranças coloniais mais fortes.”

O próprio Atlas chega a uma conclusão semelhante. Uma das causas possíveis para a diferença do morticínio entre negros e branco, diz um trecho do documento, é a reprodução de estereótipos raciais pela justiça criminal, sobretudo nas polícias, “que operam estratégias de policiamento baseadas em critérios raciais e em preconceitos sociais, tornando a população negra o alvo preferencial de suas ações”.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo