Sociedade

Sem polícia, Espírito Santo vive onda de violência

Famílias de militares ocuparam batalhões e impedem saída de viaturas. Sem policiais nas ruas, criminalidade cresce

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A população do Espírito Santo vive um momento de tensão com a paralisação de policiais militares desde o último fim de semana e o que moradores descrevem como uma onda de violência no estado, que recebeu na noite nesta segunda-feira 6 a ajuda da Força Nacional e do Exército. 

O movimento começou de forma inusitada, na sexta-feira, quando familiares dos policiais, em especial mulheres, ocuparam a porta da frente de uma companhia militar e impediram a saída de viaturas.

A partir de então, de acordo com relatos de militares do estado ouvidos pela DW Brasil, o movimento se espalhou rapidamente, em questão de horas, com a criação de grupos de WhatsApp. Praticamente as portas de todos os 14 batalhões militares e oito companhias foram ocupadas por famílias de soldados, relatam.

Sem policiamento no estado, os casos de violência aumentaram, e o governo estadual decretou a suspensão do início do ano letivo em escolas públicas nesta segunda-feira. Nos últimos dois dias, a região metropolitana de Vitória já teve mais de 50 mortes violentas, segundo o jornal O Globo, que cita o Sindicato de Policiais Civis do Espírito Santo.

Nas redes sociais, moradores compartilham vídeos de tentativas de saques, assaltos e trocas de tiros nas ruas da grande Vitória, sem qualquer presença policial. No Twitter, a hashtag #ESpedesocorro entrou entre as mais comentadas nesta segunda-feira. 

“Não é uma greve de policiais. É um movimento espontâneo, realizado por familiares, que tomaram as portas dos quartéis para impedir que os policiais saiam. As pessoas criaram grupos de WhatsApp e o movimento se espalhou. Como a primavera árabe”, justificou o sargento Renato Martins Conceição, presidente da Associação de Cabos e Soldados e Bombeiros Militares do Estado do Espírito Santo. Há cerca de 10 mil militares no Estado.

As associações ligadas a militares negam que estejam encampando o movimento dos familiares para justificar a paralisação. O governo estadual classifica o movimento de “greve branca” e já conseguiu decisão judicial que declarou a paralisação ilegal. Os soldados alegam que a situação é complexa e que não podem partir para o confronto físico com os próprios familiares para voltarem ao trabalho. “Seria uma tragédia”, argumenta o sargento Martins.

Paralisação controversa

Há pelo menos dois anos a categoria tenta uma negociação com o governo estadual para melhoria das condições de trabalho e reajuste de salários. Há uma assembleia geral marcada para o dia 15 de fevereiro e também uma reunião com o governo estadual já agendada dia 17. O salário bruto de um soldado militar no estado é de 2.600 reais. Os policiais alegam que é o pior soldo do país.

A pedido do governo estadual o Ministério da Justiça autorizou o envio de 200 homens da Força Nacional de Segurança Pública para o Espírito Santo, para reforçarem o policiamento nas ruas. Os militares da Força devem chegar ainda nesta segunda-feira à noite ao estado. A Força Nacional, criada em 2004, tem como objetivo auxiliar os estados em situações emergenciais.

Na manhã desta segunda-feira, o governador em exercício do Espírito Santo, César Colnago (PSDB), enviou um pedido formal de ajuda ao presidente Michel Temer. Segundo Colnago, “ao militar é vedado o direito subjetivo de greve”, por se tratar de serviço essencial à segurança pública. O governador Paulo Hartung (PMDB) está internado em São Paulo para tratamento de um câncer na bexiga, e Colnago assumiu o cargo interinamente no domingo.

O governo estadual acusa os militares de fazerem uma “greve branca” com objetivo de pressionar o estado a atender reivindicações salariais da categoria. A greve já foi considerada ilegal pela justiça do estado e a multa diária, caso não voltem ao trabalho, é de 100 mil reais. A Associação de Cabos e Soldados informou que vai recorrer da decisão judicial.

A associação dos militares culpa o governo estadual pela situação atual e apela para que uma comissão de familiares seja recebida ainda nesta segunda-feira por integrantes do estado para tentar apaziguar a tensão.

Por Malu Delgado

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