Sociedade

Sem crônica

Meu assunto não poderia ser outro: o racismo nos jogos de futebol

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Hoje não estou com ânimo para escrever uma crônica. Na verdade nem tenho tempo para isso – me preparo, no momento, para a viagem que pretendo fazer até São Paulo. Se tivesse tempo, talvez ânimo para escrever, meu assunto não poderia ser outro: o racismo nos jogos de futebol. Esquisito isso: uma modalidade esportiva em que os negros sempre tiveram destaque é justamente o esporte em que com maior frequência acontecem tais aberrações. É a paixão dos torcedores maior no futebol do que no basquete ou no vôlei? Sim, porque as demonstrações de racismo, como ocorrem nos estádios de futebol, só podem ser fruto de paixão. E mais, de uma paixão cega. Mais que cega: surda e não muda. Enfim, o racismo é produto de uma ignorância de animal irracional, selvagem e furioso, raivoso.

Então ficamos assim: os torcedores de futebol, alguns torcedores, claro, ficam-nos devendo uma atitude mais civilizada, mais condizente com sua humanidade, para que não comecemos a pensar que seus insultos não passam de bumerangues, que se voltam para a origem.

Mas o tempo é curto, e já prometi não me meter mais com assunto futebolístico.

Bem, mas não fujo à tentação de acrescentar uma ideia.

Os clubes devem pagar por seus torcedores, claro. Isso pode funcionar como desmotivação prévia para aqueles que se sentirem tentados à prática do delito. Um breque. Ou pode dar-se o caso de torcedores trabalhando contra seu próprio clube? Bem, se isso acontece, então a burrice chegou a um ponto que nem a jaula resolve mais. É soltar no pasto e esquecer.

Apesar de que os clubes podem manter uma vigilância tal sobre sua torcida que lhes permita entregar os infratores à polícia. Neste caso, a punição pessoal poderia isentar o clube de culpa.

Pois é, no caso do futebol parece que o assunto não vai muito mais longe. A lei existe e está aí para ser cumprida. Alguns meses ou anos de xilindró para uma meia dúzia e as deprimentes cenas de racismo terão fim. Pode crer. Mas e o preconceito racial que perdura como ferida incurável em nossa sociedade? Ninguém mais tem coragem de revelar seu racismo em público. Já é alguma coisa. Mas eu penso é na mesa do bar, quando os amigos se encontram e às gargalhadas (mas apenas em seu círculo) contam anedotas racistas; eu me preocupo é com os comentários entre quatro paredes, com espuma na boca e ódio nos olhos contra seres humanos por questões raciais, de credo religioso, de preferência sexual. Eu me assusto ao pensar que jovens, que deveriam ser generosos por serem jovens, saem às ruas armados, tentando eliminar aqueles que não rezam por suas cartilhas.

Quando é que alguns seres humanos conseguirão superar tamanhas aberrações, como essas, de não aceitar as diferenças?

Mas o tempo é curto, estou de mau humor, e não pretendo escrever uma crônica antes da viagem.

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