Sociedade

Sei não

Não sei se existe essa história de progressão e regressão. Temo que exista, pois, neste caso, é bem provável que estejamos regredindo

Apoie Siga-nos no

Quando se fala de parentesco, uma ruga vinca a testa, porque nem todas as proximidades sanguíneas são de causar orgulho, nem todos de nós somos puros-sangues. Se é que alguém sabe o que é isso.

Adamastor, meu amigo que desistiu há muito de ser gigante, justifica seu porte altivo com sua ancestralidade. Segundo ele, em um passado remoto, parentes seus ousaram desafiar Netuno, razão por que se mantém até hoje escondido em um bairro pobre de nossa cidade, desconfiado de que a maldição lançada no passado persiga os herdeiros até a última geração.

Como não tenho fumos de nobreza, não fico perdendo meu tempo com genealogias e similares.

Mesmo assim, acabo de levar um susto e dos grandes. Está bem, não reivindico para meus antepassados nenhuma distinção de sangue, azul ou de qualquer outra cor. Nem me consta que algum deles tenha cometido feitos heroicos. Isso não me preocupa.

Mas ter curiosidade de saber de onde vim, ah, isso eu tenho. Não como filius familiae, claro, e sim como membro de uma espécie. Méritos antepassados, se é que houve, não são transmissíveis. Conheço muito paspalho filho de gênio e muito gênio filho de paspalho.

O susto que acabo de levar foi pelo que andei lendo por aí. Descobriu-se que alguns macacos têm a capacidade humana de antecipar e planejar suas ações. Quem quiser conferir, consulte a revista Science, não me lembro em que número, mas já faz algum tempo.

Afirmam os cientistas que tal capacidade surgiu há 14 milhões de anos, quando viveu o último ancestral comum de humanos, chimpanzés, orangotangos e bonobos. E para quem não conhecia os bonobos, diga-se que é um tipo de chimpanzé anão que pratica sexo a toda hora sem importar-se com o gênero.

Várias experiências têm sido feitas e os primatas demonstram uma incrível capacidade de antecipar e planejar ações, capacidade bastante rara nos dias que correm entre muitos seres humanos.

Conheço muita gente que só anda para o lado que o vento sopra. Não concorda? Antecipar, planejar ações, isso requer exercício mental, e vivemos a era das facilitações. Desde o berço até a campa tudo deve ser facilitado para que a pessoa seja feliz e adore os familiares que lhe proporcionaram uma vida saudável sem necessidade de botar o cérebro a trabalhar. 

Não sei se existe essa história de progressão e regressão. Temo que exista, pois, neste caso, é bem provável que estejamos regredindo.

Fico em dúvida, muita dúvida, a respeito de quais são meus parentes.

ENTENDA MAIS SOBRE: ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.