Uma guerra entre traficantes pelo controle do Complexo de São Carlos, no Rio de Janeiro, já impôs mais de 24 horas de tumultos aos cariocas em diferentes partes da cidade.
A investida, que aconteceu no início da noite de quarta-feira 26, se repetiu na tarde desta quinta-feira 27, como relatam moradores.
Nas redes sociais, um vídeo de um bebê cantando dentro de casa viralizou. Enquanto a mãe filma pessoas armadas correndo do lado de fora, ela pede para a criança fazer silêncio. “Cala a boca!”, sussurra.
“Infelizmente essa é a realidade do Rio de Janeiro. Um triste relato em uma comunidade. Que essa criança tenha um futuro digno e a família consiga ainda encontrar a paz. Aqui vivemos em uma guerra civil não declarada”, escreveu o jornalista Renan Moura ao compartilhar o vídeo.
Infelizmente essa é a realidade do Rio de Janeiro. Um triste relato em uma comunidade. Que essa criança tenha um futuro digno e a família consiga ainda encontrar a paz. Aqui vivemos em uma guerra civil não declarada pic.twitter.com/7ZcrvVNV7U
— Renan Moura (@renanmouraglobo) August 26, 2020
Dias de terror
Segundo informações do portal G1, o tiroteio da madrugada e a troca de tiros da manhã desta quinta-feira 27 são consequência de uma guerra entre facções criminosas diferentes.
Na quarta, traficantes tentaram invadir o Morro da Mineira, localizado no Complexo São Carlos, região central do Rio.
Os confrontos começaram ainda naquela tarde, quando suspeitos trocaram tiros com a polícia na região da Lagoa Rodrigo de Freitas.
De acordo com a PM, os criminosos vinham da Rocinha e carregavam granadas, munição e um fuzil. A intenção era disputar a influência no Complexo São Carlos.
Ainda na quarta à noite, pelo menos duas pessoas morreram em decorrência do conflito. Uma jovem de 25 anos foi baleada após se curvar para proteger o filho, de 3 anos, no meio do fogo cruzado.
Com o avanço do confronto, a Polícia Militar do Rio de Janeiro enviou equipes ao local. O Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) também foi acionado.
A #PMERJ está atuando nos bairros Estácio e Rio Comprido, na #ZonaNorte, devido a confrontos entre criminosos na região.
As intervenções das equipes policiais resultaram, até o momento, na apreensão de 5 fuzis, 3 pistolas, granadas e munições.#COE #BPChq #BOPE #RECOM #4BPM #5BPM pic.twitter.com/eAiH5c7ufO
— @pmerj (@PMERJ) August 27, 2020
Na madrugada de quinta, um bandido em fuga da polícia invadiu um condomínio no bairro do Rio Comprido, fez o porteiro de refém e conseguiu entrar em um dos apartamentos. Lá, uma criança, uma senhora e uma mulher também foram feitas reféns. O Bope negociou a liberação das vítimas, que foi feita às 7h da manhã. O homem foi preso.
“A sensação é de tristeza da gente estar vivendo isso na nossa cidade. A gente precisa de um governo que faça as coisas diferentes para o povo. Estamos abandonados. Se não fosse a nossa inteligência emocional de lidarmos com uma pessoa, que também está passando pelas dificuldades dele, e com a minha neta junto, as coisas poderiam ter tido um desfecho muito triste. Graças a Deus a gente teve inteligência emocional para conduzir as coisas com muita maturidade”, disse à TV Globo uma das vítimas do sequestro.
O porta-voz da PM, coronel Mauro Fliess, afirmou à rádio CBN que existem “limitações” à Polícia desde que o Supremo Tribunal Federal decidiu proibir as operações policiais nas favelas durante a pandemia.
Para o coronel, “criminosos se sentem com uma certa proteção para se articularem dentro das comunidades para partirem para o enfrentamento.”
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