Sociedade

Quatro brasileiras são libertadas de boate na Espanha

Atuação conjunta entre os dois países desmontou quadrilha de tráfico de pessoas que levava mulheres de Salvador para Salamanca

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Às 10h da manhã de 30 de janeiro, um policial quebra com um pé-de-cabra a fechadura de uma grossa porta de ferro. Outros três agentes também tentam entrar na boate em Salamanca, norte da Espanha, retirando a proteção de uma janela. Conseguem antes arrombar a porta do local. Destrancam quartos escuros e simples, mobiliados apenas com duas camas de solteiro e um telefone. Na busca, encontram quatro brasileiras, além de outras estrangeiras.

Aliciadas em Salvador por uma quadrilha de tráfico internacional de pessoas, que atuava há pelo menos um ano na cidade, as brasileiras chegaram à Espanha com a promessa de um emprego rentável. Acabaram trancadas em uma casa de show sob forte vigilância, forçadas a se prostituir para pagar as dívidas da viagem. Só podiam cruzar as portas da rua por poucas horas, enquanto as equipes de limpeza e cozinha trabalhavam.

A situação de exploração, e filmada pelas autoridades espanholas, terminou nesta semana. Uma ação conjunta do Ministério Público Federal (MPF) na Bahia, da Polícia Federal (PF) e do Cuerpo Nacional de Policia desmontou a quadrilha e fechou duas casas de show em Salamanca e Ávila. A Operação Planeta prendeu ainda cinco pessoas (três no Brasil e duas na Espanha) e realizou buscas e apreensões nos dois países.

A PF acredita que o esquema levou ao exterior entre 10 e 15 brasileiras somente no último ano. “Esse esquema não funciona sem a rotatividade das moças, pois os clientes querem novidade”, relata Vladimir Aras, procurador da República responsável pela operação.

As brasileiras, com idades entre 27 e 39 anos, já estão retornando ao País. Mas quando chegavam à Espanha, descobriam que a dívida pelas passagens e acomodação não era de 1 mil euros, mas 4 mil. Ficavam presas até pagarem tudo.

Na operação, os policiais encontram os sinais da escravidão moderna: numerosos documentos e recibos das dívidas pagas pelas mulheres. Havia também  drogas para distribuição e 5 mil euros arrecadados no comércio do sexo, drogas e bebidas.

De acordo com as investigações, a quadrilha é composta por ao menos quatro pessoas no Brasil. O chefe do grupo é um espanhol, dono da boate em Salamanca. Ele era auxiliado pela esposa brasileira e pelo primo da mulher, que atuava como aliciador.

A dupla brasileira foi presa pela PF no País, mas o chefe da quadrilha conseguiu escapar da ação na Espanha.

Estes dois casos de tráfico de pessoas foram descobertos após uma detalhada denúncia ao Disque 180, do Governo Federal. Com o apoio da policia espanhola a investigação levou apenas três meses. “Quando o crime foi constatado de forma cabal, a operação foi deflagrada para cessar a conduta. Agora vamos aprofundar a investigação para saber quem foram as vítimas no passado”, explica Fernando Berbert de Castro, delegado da PF em Salvador e coordenador da operação no Brasil.

As investigações, segundo o procurador Aras, foram rápidas devido à denúncia e a integração com a polícia espanhola, contatada por agentes da PF que atuam na embaixada do Brasil em Madri. “Em diversos casos semelhantes, a investigação demora bastante. Mas houve cooperação entre os países envolvidos, o que é uma vantagem para lidar com quadrilhas internacionais.”

A quadrilha aliciava as mulheres de baixo nível escolar em zonas pobres de Salvador, onde há poucas oportunidades de trabalho. Uma abordagem comum no Nordeste do Brasil, segundo dados da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça e do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc). Nos últimos seis anos, quase 500 brasileiros foram vítimas deste crime (337 casos de exploração sexual). A maioria dos registros ocorreu em Pernambuco, Bahia e Mato Grosso do Sul.

Após a conclusão do caso, o inquérito segue da PF para o MPF, que deve denunciar os envolvidos por formação de quadrilha e tráfico internacional de pessoas para exploração sexual.

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