Sociedade

Quanto custa um medalhista olímpico?

O sucesso do fomento ao esporte se mede, em grande parte, pelo número de medalhas conquistadas.

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Por Andreas Sten-Ziemons

Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro são o ponto alto do calendário esportivo mundial em 2016. No entanto, o olhar dos funcionários do setor na Alemanha já mira mais adiante, pois seu mais importante projeto entra na fase decisiva: a controvertida reforma do fomento ao esporte de ponta no país.

O balanço das medalhas no Rio não poderá ser tão ruim, nem tão bom, a ponto de nos desviar de nosso curso rumo a um sistema de sucesso sustentável”, afirma o presidente da Federação Alemã de Esportes Olímpicos (DOSB), Alfons Hörmann.

Em setembro próximo, os últimos pontos-chave deverão estar fixados, antes que a comissão esportiva do Bundestag (Parlamento alemão) comece a se ocupar da reforma, em 19 de outubro.

Mas qual curso é bem-sucedido e sustentável? Dar uma resposta não é nada fácil. Em 2016 o Ministério do Interior destinou 160 milhões de euros ao esporte de ponta nacional. As verbas são recebidas e administradas pelas associações esportivas e por sua organização-teto, a DOSB.

São vários os pontos de crítica ao sistema alemão atual. Um deles é que, sendo o fomento excessivamente difuso, a ponta estaria aquém do nível competitivo internacional. Além disso, estruturas duplicadas na organização das ligas esportivas estaduais, associadas às associações-teto das diferentes modalidades esportivas, consumiriam verbas e dificultariam o estabelecimento de áreas de competência claras.

Há mais de dois anos o Ministério do Interior e seu chefe, Thomas de Mazière, debatem com a DOSB como tornar mais eficiente esse sistema. Dado que o assunto envolve muito dinheiro e, em última instância, também poder, as discussões transcorrem sigilosamente.

“Precisamos de mais funcionários em tempo integral que se dediquem ao tema do desenvolvimento do esporte”, diz Hörmann. Ou seja: profissionais devem tomar a frente, e os meios financeiros devem ser empregados de forma mais concentrada. Já existem exemplos internacionais nesse sentido.

Os britânicos conquistaram fama de colecionadores de medalhas por seu desempenho nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, em que ficaram em terceiro lugar. Assim, o sistema de fomento do Reino Unido poderia servir como modelo para a Alemanha.

Nesse caso, porém, não se levam em consideração critérios de amplitude ou diversidade: os investimentos fluem exclusivamente para as modalidades com chances de medalhas. Nos quatro últimos anos, Londres alocou 440 milhões de euros para esse fim, dos quais um terço vem de uma loteria e dois terços do governo. E este se prontifica a ainda aumentar em 29% sua participação financeira, até 2020.

Tal generosidade estatal se reflete na ambição com que os atletas britânicos estão viajando para o Rio. “Queremos ser melhores do que em Pequim”, revela Simon Timson, diretor de esportes de alto desempenho na UK Sport, organização governamental que direciona o desenvolvimento do setor no país. E complementa: “É uma meta realista pretendermos realizar os Jogos de Verão de mais êxito fora do Reino Unido.”

A orientação segundo o grau de sucesso igualmente se expressa nos subsídios aos esportistas britânicos: aqueles que compõem o alto escalão mundial têm direito a 33,5 mil euros. Em comparação, a fundação Deutsche Sporthilfe paga um máximo de 18 mil euros, mas patrocina três vezes mais esportistas. Na Suíça, a metade dos atletas de ponta recebe menos de 13 mil euros.

Desse modo, fica claro quanto idealismo é preciso para dedicar toda uma vida ao esporte em troca de tais somas. Uma saída, tanto na Suíça quanto na Alemanha, é o engajamento nas companhias de fomento ao esporte das Forças Armadas. Atualmente há 744 atletas ativos na alemã Bundeswehr, os quais, paralelamente ao treinamento, também têm a chance de se aperfeiçoar para o futuro profissional.

Por sua vez, o Comitê Olímpico dos Estados Unidos (USOC) tem que se arranjar sem qualquer patrocínio estatal. A federação recebe suas verbas de doadores e as repassa às diversas associações esportivas. No ciclo quadrienal 2009-2012, alcançou-se um total de 568 milhões de dólares.

O princípio americano de distribuição é o mais simples possível: quem ganha medalhas é subvencionado. A consequência é que as associações ricas ficam ainda mais ricas, enquanto outras saem quase de mãos vazias. A discrepância se agrava ainda mais pelo fato de os clubes de modalidades prestigiadas – como a natação, ou o atletismo, muito popular nos EUA – decuplicam suas arrecadações através de patrocinadores próprios.

No entanto, também nos EUA se anuncia um debate acirrado por uma reforma do esporte subvencionado. Falando à revista Sport Business Journal no início de 2016, Scott Blackmun, diretor executivo do USOC, anunciou a intenção de basear a distribuição das verbas numa análise de dados: é preciso encarar a questão como um investidor, comentou.

Por outro lado, o grande trunfo no fomento ao esporte nos EUA é a concorrência entre as escolas superiores. Seja no basquetebol, luta livre, atletismo ou natação, os colleges competem com bolsas de estudo pelos maiores talentos, além de oferecer condições altamente profissionais de treinamento.

Embora a China e a Rússia tenham largo histórico de sucesso no esporte olímpico, seu sistema estatal centralizado de caça de talentos jamais seria um modelo praticável para a Alemanha. Até porque, no caso russo, o mais recente relatório da Agência Mundial Antidoping (Wada) mostrou que o incentivo ao esporte também se baseia em doping sistemático.

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