Sociedade

Protesto inédito de jogadores entra na história contra racismo

Partida entre PSG e Istambul Basaksehir foi interrompida após insultos contra integrante da comissão técnica do time turco

Foto: FRANCK FIFE / AFP Foto: FRANCK FIFE / AFP
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“Gesto forte”, “Basta”, “dimensão inédita”. Estas foram algumas das reações da imprensa francesa desta quarta-feira (9) sobre a postura inédita contra o racismo dos jogadores do PSG e do Istambul Basaksehir. O ato vai entrar para a história, afirmam os jornais do país. A partida foi interrompida após um integrante da comissão técnica do time turco acusar um juiz assistente de ter proferido um insulto racista ao se referir a ele como “negro”.

Todos os jornais lembram os fatos. A partida entre o Paris Saint-Germain e o Istambul Basaksehir, disputada na noite de terça-feira (8) no Parc des Princes, em Paris, válida pela última rodada da fase de grupos da Liga dos Campeões foi interrompida aos 14 minutos do primeiro tempo.

O quarto árbitro teria feito um insulto racista contra o técnico adjunto do time turco, o camaronês Pierre Acchille Webo, que reclamou da arbitragem e foi expulso. “Por que você falou negro? Você não pode falar negro”, gritou o camaronês contra o quarto árbitro, Sebastian Coltescu, de origem romena.

O primeiro jogador que chegou perto para pedir explicações ao árbitro foi o atacante brasileiro do PSG, Neymar, seguido pelo atacante senegalês do Istambul, Demba, informa Libération. O futebol viveu então um imenso momento ecumênico, diz a reportagem.

Atitude inédita

Em uma atitude inédita, os jogadores dos dois clubes deixaram o gramado. Poucos minutos depois, o clube turco tuíta o slogan antirracista da União Europeia de Futebol. O Fenerbahce, outro time turco, o PSG e vários outros clubes compartilham a mensagem, assim como o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que também usa a hashtag #NãoaoRacismo.

A UEFA tentou negociar a retomada da partida, mas o jogo acabou sendo adiado e será retomado nesta quarta-feira (9). O PSG vai entrar em campo já classificado para a próxima fase da competição, devido à vitória de 3 a 2 do Leipzig contra o Manchester United na noite de ontem.

“Basta”, é a manchete lacônica do L’Équipe. Eles entrarão para a história como os primeiros, indica o editorial do diário esportivo. Ao deixar o gramado, os jogadores dos dois clubes realizaram um gesto de uma dimensão inédita e de um alcance incrível.

Nos últimos anos, muitos pedidos foram feitos para que jogos de futebol fossem interrompidos em caso de insultos racistas, de gritos imitando macacos nas arquibancadas.

Os atletas do PSG e do Istambul Basaksehir foram os primeiros a agir, a parar de jogar para manifestar sua revolta, para dizer “basta” contra o racismo. O jornal vê na reação dos jogadores ontem o prolongamento de um fenômeno maior, iniciado apos o assassinato de George Floyd nos Estados Unidos e o movimento “Vidas Negras importam” (Black Lives Matter), que teve o apoio dos atletas do NBA americano.

Foto: FRANCK FIFE / AFP

Decisão histórica

A ministra do Esporte da França, Roxana Maracianeanu, entrevistada pelo Le Parisien, elogiou a reação coletiva e solidária dos atletas, um gesto forte. Ela acredita que finalmente as coisas vão começar a mudar na luta contra o racismo no futebol. Roxana também tuitou sobre o ocorrido, saudando a “decisão histórica dos jogadores”.

Em entrevista ao Le Parisien, o presidente da ONG francesa SOS Racismo, Dominique Sopo, explica que mesmo com o 4° árbitro tentando explicar que em romeno a palavra “negro” não tem o apelo pejorativo, o uso da palavra para se referir a uma pessoa de origem africana é um fato grave.

“Por que o juiz assistente utilizou a cor da pele para se referir a ele? Isso tem uma dimensão racista”, afirma Sopo. Segundo ele, é preciso ser solidário com quem se sentiu ofendido por esse gesto. O presidente do SOS Racismo considera ainda que o incidente de ontem revela que o fenômeno do racismo existe em todos os ambientes, inclusive onde há pessoas de diferentes origens.

Libération escreve que devido a um contexto político explosivo e as ligações do clube turco com o presidente Erdogan, a UEFA tomou todas as precauções e só publicou um comunicado quase à meia-noite de ontem, dizendo que está investigando o caso e que o racismo e toda forma de discriminação não têm lugar no futebol.

Na reportagem, o diário destacou a atitude decisiva do jogador senegalês Demba Ba ao questionar o juiz assistente de que ele não iria se referir a Webo como “homem branco”, se sua cor de pele fosse branca. Demba Ba pediu aos seus companheiros do Basaksehir para se retirarem do gramado, protesto que foi seguido pelos jogadores do PSG.

O texto fala em incidente e discussões com os dois clubes que permitiram, a título excepcional, a retomada da partida nesta quarta-feira com novos árbitros. A UEFA anunciou a abertura imediata de uma investigação sobre o incidente.

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