Política
Produtora anuncia cancelamento do show de Kanye West em São Paulo
A prefeitura havia barrado o uso do Autódromo de Interlagos para a apresentação do norte-americano
A produtora Holding Entretenimento & Networking anunciou nesta quinta-feira 20 o cancelamento de um show do rapper Kanye West (conhecido atualmente como Ye) que ocorreria em São Paulo em 29 de novembro.
Segundo a empresa, já estavam pagos o cachê do norte-americano e as taxas para uso do Autódromo de Interlagos — local originalmente anunciado para receber a apresentação —, mas a prefeitura revogou a autorização para o evento.
“Além do cancelamento do contrato do recinto, ficou claro nas últimas semanas que o ambiente e as vontades políticas não permitiriam a realização do espetáculo neste município, não nos restando outra alternativa”, informou a produtora em um comunicado nas redes sociais.
A companhia afirmou que buscará uma nova cidade que “proporcione abertura para o espetáculo”. Quem já comprou ingresso poderá utilizá-lo na nova apresentação — ainda sem data definida — ou solicitar reembolso. “Em até 24 horas, todos os clientes receberão por e-mail e/ou WhatsApp cadastrados no ato da compra as instruções detalhadas sobre a política de reembolso”, diz a Holding.
Nazismo
O Ministério Público de São Paulo havia defendido a prisão de Kanye West caso ele promovesse, cantasse ou divulgasse ao público brasileiro qualquer música com alusão ao nazismo.
A recomendação consta de um inquérito civil instaurado pelo MP após o anúncio da vinda do artista norte-americano.
A apuração tramita na Promotoria de Justiça de Direitos Humanos. Um despacho enviado ao Comando de Policiamento de Choque da Polícia Militar pedia que a corporação mantivesse “um policial ou equipe de policiais de prontidão durante o show e com orientações especificas para prender o cantor em flagrante, conduzindo-o para a Delegacia de Polícia, juntamente com seus produtores, caso ele cante uma música ou faça qualquer apologia ao nazismo”.
“É sabido que o direito à liberdade de expressão não é absoluto”, escreveu a promotora Ana Beatriz Frontini.
Também poderiam ser alvos de uma eventual ordem de prisão os produtores do show. O MP-SP ainda adverte no inquérito que apologia ao nazismo na apresentação poderia resultar em uma ação civil pública por danos morais.
O show de Kanye West em São Paulo estava inicialmente marcado para ocorrer no Autódromo de Interlagos, mas a gestão de Ricardo Nunes (MDB) vetou a realização do evento devido a manifestações discriminatórias do rapper, que recentemente declarou, com orgulho, ser um homem “racista, nazista e gordofóbico”.
Neste ano, ele lançou uma música chamada Heil Hitler, posteriormente banida de plataformas de streaming. Boa parte das declarações do cantor vai de encontro à própria tradição do hip-hop, movimento que nasceu como voz de resistência negra e denúncia da opressão.
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