Sociedade

Por trás das palavras

Bem, falar dos jogadores de futebol da seleção brasileira não é propriamente falar de futebol, porque se eu não entendo do assunto, tampouco eles depois daquele fiasco

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Cerca de 500 mil pessoas saudaram a seleção alemão na última terça-feira 15 em Berlin
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Como já declarei aqui (e mais de uma vez), não entendo de futebol. Por isso, quando um leitor, que me honrou com a leitura de um texto meu, me aconselhou a não falar mais do esporte bretão, com a informação de que não entendo nada do assunto, ele não quis me ofender, suponho, tampouco este escrevinhador sentiu-se ofendido. Mas a mim parece que entendo de outros assuntos em que meu conselheiro não deve ser muito versado. Estou falando, por exemplo, de alusão.

Em minha crônica da semana passada afirmei que meu pai contava-nos histórias exemplares e relatei sucintamente aquela velha história que aparecia, inclusive, em cartilhas escolares, a história do menino que morreu afogado.

Não costumo ler os comentários dos leitores e por diversas razões. Uma delas é o teor agressivo de alguns, que preferem agredir a argumentar. Isso não agrada e além do mais entristece quando se descobre quanta falta faz a leitura nas escolas. Outra razão é a falta de tempo.

Não costumo ler os comentários, mas de vez em quando um amigo me relata o que encontrou. Foi assim que fiquei sabendo do caso: um cidadão, cuja leitura muito me honra, entendeu que eu estivesse inventando aquela história. Ora, no próprio texto afirmo que meu pai contara o fato. Além disso, entendeu que eu estava querendo transmitir moralidade com a crônica. Não percebeu, agora suponho, que o menino afogado era apenas alusão a algo que aconteceu na Copa.

Não faz mal, prometo, em respeito a esse leitor, que não falo mais do que não entendo, isto é, de futebol.

Bem, falar dos jogadores de futebol da seleção brasileira não é propriamente falar de futebol, porque se eu não entendo do assunto, tampouco eles depois daquele fiasco. Pelo menos é o que infiro das declarações de um jornalista brasileiro que, este sim, é tido por todos como entendido em esportes. Prefiro não revelar o nome, pois para tanto não estou autorizado.

Numa entrevista a um canal de televisão, indagado sobre as causas de nosso fracasso ante Alemanha e Holanda, ele afirmou que não foi o Brasil que caiu ante esses dois países, mas a seleção brasileira de futebol que apanhou vergonhosamente das seleções daqueles países. O entrevistador, insistente, queria saber a opinião de seu colega jornalista sobre as causas de tamanho insucesso, já que o Brasil tem “o melhor futebol do mundo”. Com um risinho maroto pendendo de seus lábios, o jornalista em questão respondeu que seria impossível vencer a copa, se os jogadores, lá na Granja Comary, perdiam mais tempo nos cabeleireiros e na frente do espelho do que no campo treinando.  Assim não dá, né – ele concluiu.

Em vista disso tenho uma sugestão. (Calma, não se trata de futebol, assunto de que não entendo, mas de comportamento, de que me restam uns fragmentos de luz). Daqui quatro anos, se quisermos ter melhor sorte com nossos heróis, os gladiadores da modernidade, retirem-se os telões dos estádios, para que os jogadores não se percam procurando-se a todo momento, proíbam-se espelhos e cabeleireiros no campo (de concentração) da Granja Comary e pronto, o hexa está garantido.

Em tempo: minha mulher passou por aqui e me advertiu que a próxima copa será na Rússia. Então não tem mesmo jeito, não vou poder contribuir para a glória nacional.

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