Polícia aponta autolesão em suástica; defesa afirma que laudo é inconclusivo

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul afirmou que os cortes em forma de suástica em uma jovem que disse ter sido atacada na rua, há duas semanas em Porto Alegre, é um caso de “autolesão”.  O delegado Paulo Sérgio Jardim disse à imprensa que há indícios de automutilação ou de que tenham sido feitos de forma consentida. Agora a jovem será indiciada por falsa comunicação de crime.

A defesa da jovem, feita pelo escritório Gabriela Souza Advocacia para Mulheres, divulgou uma nota afirmando que “o teor do laudo assinado pelos peritos reafirma a convicção da defesa de que a jovem foi vítima de um ataque, conforme testemunhado por ela à Polícia Civil.”

Segundo o laudo, “as lesões verificadas apresentam, portanto, características compatíveis com as de lesões autoinflingidas, embora não haja, a partir exclusivamente dos resultados do exame de corpo de delito, elemento de convicção para se afirmar que efetivamente foram autoprovocadas. Nesse sentido, pode-se afirmar que as lesões foram produzidas: ou pela própria vítima ou por outro indivíduo com o consentimento da vítima ou, pelo menos, ante alguma forma de incapacidade ou impedimento da vítima em esboçar reação.”

Para a defesa, a perícia não descarta a hipótese de as lesões terem sido causadas por outro indivíduo, inclusive mediante incapacidade de defesa da vítima. “Isto apenas comprova o teor do depoimento da vítima, que não esboçou reação durante o ataque e sofreu estresse pós-traumático, situação que se mantém até o momento.”

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Segundo o delegado, as suspeitas da polícia começaram ao analisar as lesões da jovem, no dia do depoimento. A simetria da marca foi o que levantou a suspeita do delegado. Jardim afirmou que “a falta de vontade” da vítima em querer dar prosseguimento ao caso também levantou suspeitas sobre a agressão.

A investigação será remetida a Justiça, e a jovem indiciada por falso testemunho. O delegado afirmou ainda que a jovem sofre distúrbios psiquiátricos e toma “remédios fortíssimos”. Além do laudo, a investigação aponta falta de comprovação de outras provas materiais, como gravação de câmeras do entorno onde a agressão teria ocorrido e dos testemunhos colhidos. A defesa pede acesso a essas provas.

O caso

Na segunda-feira 9, uma jovem de 19 anos, moradora de Porto Alegre, relatou à Polícia Civil ter sido abordada por quatro homens por usar uma camisa “Ele Não”, de oposição a Jair Bolsonaro. Ela mostrou uma foto com sua costela marcada com uma suástica feita a partir de riscos de canivete.

O caso ocorreu no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre. Segundo o relato da jovem, ela descia de um ônibus quando foi abordada pelo grupo de homens. Eles teriam a atingido com socos. Na sequência, registra o Boletim de Ocorrência, dois deles teriam segurado a vítima, e um terceiro entalhou a suástica em sua barriga.

Na época da denúncia, o delegado disse que o desenho “seria uma suástica ao contrário”. “Se fosse alguém ligado a um grupo neonazista, faria o desenho correto.”