Sociedade

Pedro Serrano analisa influência da mídia no Direito

Jurista e colunista de CartaCapital lança a obra ‘A justiça na sociedade do espetáculo’ na segunda 21 em São Paulo

Pedro Serrano analisa influência da mídia no Direito
Pedro Serrano analisa influência da mídia no Direito
Serrano destaca narrativa social que cria acusação antes mesmo da existência real de um processo
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A defesa das liberdades públicas e dos direitos fundamentais, sempre atrelada aos noticiários, são o norte de uma coletânea de artigos lançada por Pedro Estevam Serrano na segunda-feira 21. Na obra, Serrano, que é advogado, professor de Direito Constitucional da PUC-SP e colunista de CartaCapital, analisa o que define como um permanente estado de exceção no Brasil, onde a figura do pobre como bandido é o grande estigma social.

“Há artigos voltados à espetacularização da justiça e ao estado de exceção. Outros trazem a ameaça potencial à democracia.” Ao todo, são 130 artigos selecionados entre inúmeros publicados na imprensa brasileira na obra A justiça na sociedade do espetáculo (64 reais, 451 páginas). O lançamento acontece das 18h30 às 21h30, na Livraria da Vila- Lorena ( al. Lorena, 1.731, Jardim Paulista, São Paulo).

“A grosso modo, a linha dos artigos está na defesa das liberdades públicas, dos direitos fundamentais, sempre ligados à notícias do momento, de grande repercussão”, afirma. Serrano ressalta dois casos que exemplificam a Justiça como fonte de exceção e não do Direito. “Honduras e Paraguai foram exceções, ou seja, foram golpes promovidos pelo judiciário, ou com o beneplácito deles.”

A inversão acontece a partir dos destaques dados pela mídia a determinados fatos judiciais. “O tribunal deixa de agir segundo a lógica do lícito e do ilícito e passa a agir segundo a lógica da notícia e da não notícia, do poder e do não poder. Isso é próprio da política”, diz. “A transformação, em especial, do processo penal em espetáculo é um imenso dano à vida democrática.”

A defesa da liberdade pública também é objeto de análise na obra. O autor classifica a inconstitucionalidade da criminalização do porte de drogas para uso pessoal como uma questão jurídica.

“Defendo a descriminalização do porte para uso de entorpecentes, assim como a descriminalização do comércio. Porém, a criminalização desta última é legítima no plano constitucional, mas não recomendável, uma vez que ela traria mais problemas do que soluções. São várias as razões. A guerra às drogas é ineficiente e acaba gerando muita violência”, explica Serrano.

Ele destaca a criação de uma narrativa social de acusação antes mesmo da existência real de um processo. “O processo funciona como uma narrativa criada a partir da mídia, da Polícia, do Ministério Público, através de vazamentos ilegais, seletivos. Isso se transforma em sentimento social e acaba se esvaindo como processo substantivo, como conteúdo mesmo.”

Por fim, frisa a necessidade de um jornalismo jurídico no país, feito tanto pelos profissionais da imprensa quanto pelos integrantes da academia e comunidade jurídica.

“Precisamos produzir opiniões jurídicas nos veículos midiáticos. Assim, será possível fazer críticas públicas às decisões judiciais. O acadêmico, o profissional liberal, deixará de ser visto apenas como o profissional atuante no seu ambiente e passará a ser visto como aquele que atua no público em razões de justiça, contra as razões de estado.”

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