Sociedade

Pecuaristas protestam contra o Bradesco por vídeo sobre ‘Segunda sem carne’

Representantes do setor realizaram churrascos em frente a agências do banco

Protestos de pecuaristas defenderam o consumo de carne e acusaram o Bradesco de 'lacração'. Foto: Reprodução/Norte Agropecuária
Apoie Siga-nos no

Pecuaristas realizaram churrascos em frente a agências do banco Bradesco em diversas cidades brasileiras, como forma de protesto contra um vídeo que sugeria a diminuição do consumo de carne, veiculado pela empresa no fim de 2021. As manifestações, ocorridas nesta segunda-feira 3, tiveram apoio de entidades do agronegócio.

O vídeo fazia parte de uma campanha do Bradesco que propunha iniciativas sustentáveis para neutralizar as emissões de carbono. Na peça, três mulheres citavam “duas atitudes simples” para reduzir impactos do efeito estufa: uma delas era comer pratos vegetarianos às segundas-feiras.

“A primeira é reduzir o nosso consumo de carne e aderir à Segunda Sem Carne”, diz uma das participantes da campanha. “A criação de gado contribui para a emissão dos gases de efeito estufa. Então, que tal se a gente reduzir o nosso consumo de carne e escolher um prato vegetariano na segunda-feira?”, completou. A segunda dica era a prática de compostagem de lixo.

O vídeo foi retirado do ar após críticas de pecuaristas. Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente, chegou a chamar a peça do Bradesco de “propagandazinha ridícula”.

Protestos intitulados “Segunda Com Carne” foram convocados por organizações como o Sindicato Rural de Cuiabá, que publicou em 31 de dezembro uma nota de repúdio ao Bradesco assinada por entidades do Mato Grosso. No texto, a instituição classificou a peça do banco como “desinformação” e pediu “respeito à pecuária nacional e ao trabalho realizado pelos pecuaristas do estado”.

O Sindicato disse ainda que os modelos de produção da pecuária brasileira “utilizam práticas sustentáveis, pastagens produtivas e integrações para a criação de bovinos que contribuem positivamente para o balanço de carbono”.

Churrascos foram registrados nas redes sociais em cidades como Cuiabá (MT), Ribeirão Preto (SP), Birigui (SP), Araçatuba (SP), Presidente Prudente (SP), Goiânia (GO) e Rio Verde (GO).

No calçadão de Presidente Prudente, dois mil espetinhos foram distribuídos para os transeuntes. Em Goiânia, um dos participantes registrou em vídeo: “Tem churrasquinho de frango, tem de picanha, contrafilé, tem linguicinha, tem tudo”.

Figuras políticas manifestaram apoio ao movimento. O deputado estadual de São Paulo Frederico D’Ávila (PSL) escreveu em sua rede social: “Que o banco aprenda a não se intrometer nos nossos costumes e hábitos alimentares e a deixar de disseminar mentiras sobre o agro”.

https://twitter.com/NorteAgroTO/status/1478081763033468933

Bradesco se retrata e diz que vídeo é descabido

Em nota nesta segunda-feira 3, o Bradesco disse apoiar o setor agropecuário e se disse “o maior banco privado do agronegócio há décadas”. O banco tem programas de incentivo especiais ao agronegócio e realiza promoções para a contratação de créditos a ruralistas.

“O Bradesco reitera seu apoio e crença irrestrita ao setor agropecuário. Há décadas é o maior banco privado do agronegócio. Foram a Pecplan e a Fundação Bradesco, com o apoio de seus técnicos, que implantaram e capacitaram milhares de agropecuaristas a fazer inseminação artificial. Com isso, contribuiu decisivamente para a pecuária alcançar o atual e reconhecido nível de excelência mundial”, diz o posicionamento oficial.

Em 24 de dezembro, o Bradesco enviou uma “carta aberta ao agronegócio brasileiro” em que chamou de “descabida” a sugestão das mulheres que participaram do vídeo veiculado pelo banco.

“Lamentavelmente vimos uma posição descabida de influenciadores digitais em relação ao consumo de carne bovina, associadas à nossa marca”, declarou a empresa. “Importante dizer que tal posição não representa a visão desta casa em relação ao consumo de carne bovina.”

Pecuária gera graves efeitos ambientais

Conforme mostrou CartaCapital, em artigo dos jornalistas Glenn Greenwald e Vivian Mocelin, a pecuária sozinha é responsável por 80% da devastação da Amazônia, segundo dados do Atlas Florestal Global da Universidade de Yale. São cerca de 85 milhões de bois que habitam a região, de acordo com estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

O artigo mostra ainda que a criação de animais para consumo alimentar totaliza 14,5% das emissões de CO2 globais causadas pela atividade humana, com base em informações de um relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, a FAO.

No Brasil, 72% do total de emissões estão associadas a atividades do setor agropecuário. Só o setor de proteína animal gera 28% dos gases de efeito estufa emitidos no País. Outros 44% se devem a mudanças no uso do solo encabeçadas pela derrubada de floresta amazônica para abertura de pastagens, conforme apontam dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa, do Observatório do Clima.

ENTENDA MAIS SOBRE: ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo