Sociedade

Para juiz, fotógrafo é culpado por perder olho em protesto

Olavo Zampol Júnior nega indenização a Sérgio Silva, que perdeu visão de um olho em junho de 2013. Para ele, o profissional pôs-se em perigo

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O fotógrafo Sérgio Silva perdeu parte da sua visão por causa de algo que acertou o seu olho esquerdo no dia 13 de junho de 2013. Ao lado de manifestantes que protestavam contra o aumento da tarifa de ônibus, ele fotografava policiais que disparavam balas de borracha na direção deles no centro de São Paulo.

Responda rápido: o que atingiu o olho de Sérgio?

O juiz Olavo Zampol Júnior não tem certeza. Por isso, nesta terça-feira 16, o magistrado da 10ª vara do Tribunal de Justiça de São Paulo negou o pedido de indenização de Sérgio. Ele diz que não há “provas de que o ferimento experimentado pelo autor tenha sido provocado por bala de borracha”, já que a perícia foi inconclusiva.

Mais à frente, o juiz diz que, na verdade, nem sequer importa se a Polícia Militar o atingiu ou não: Sérgio colocou-se em perigo. “Mesmo que houvesse provas de que o ferimento experimentado pelo autor tenha sido provocado por bala de borracha disparada pela polícia, ainda assim, não haveria de se cogitar da pretendida indenização,” diz o magistrado.

A culpa, para o juiz, seria de Sérgio, que estava no lugar onde a polícia atirava. “Ao se colocar o autor entre os manifestantes e a polícia, permanecendo em linha de tiro, para fotografar, colocou-se em situação de risco, assumindo, com isso, as possíveis consequências do que pudesse acontecer.”

Por fim, o juiz diz que os jornalistas deveriam, além de não ficar perto da notícia, se proteger. “Não por outro motivo alguns jornalistas buscam dar visibilidade de sua condição em meio ao confronto ostentando coletes com designação disso, e mais recentemente, coletes a prova de bala e capacetes.”

Ao escrever isso, o juiz ignora porque os jornalistas agora usam capacetes, coletes à prova de bala e outros equipamentos: para não ser o próximo Sérgio, ou um dos outros tantos colegas feridos daquele dia diante de ações desproporcionais da PM.

Na decisão, por fim, o juiz diz não estar “insensível ao drama do autor”. Mas Sérgio segue sem olho ou indenização.

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