O padre Julio Lancellotti participou de uma ação para retirar pedras instaladas no entorno da biblioteca Cassiano Ricardo, no Tatuapé, zona leste de São Paulo. A estrutura, segundo ele, servia para afugentar do espaço a população em situação de rua, um claro exemplo de aporofobia (aversão aos pobres).
Em entrevista a CartaCapital, o pároco disse que as pedras foram colocadas no local há bastante tempo.
“Temos usado esse tipo de ação como exemplo de um equipamento público que é para acolher, mas conta com essa estrutura agressiva, pedras bem pontiagudas, um exemplo bastante claro de aporofobia”, disse. “As pedras sinalizavam que a população de rua não deveria nem entrar na biblioteca. É uma mensagem muito forte: ‘Você não é bem-vindo aqui.'”
Lancellotti explicou que a retirada das pedras ocorreu em articulação com a direção da biblioteca, que recomendará a instalação de um jardim no local.
Nas redes sociais, o padre publicou uma foto da ação seguida da legenda: “Tirar as pedras do caminho”.
Ele também contou com o apoio de voluntários do grupo Palhaços sem Fronteiras, que produziram uma paródia da canção Bella Ciao: “Pedra tchau, pedra tchau, aporofobia nunca mais”.
A reportagem de CartaCapital procurou a Prefeitura para saber se a gestão de Ricardo Nunes (MDB) tinha conhecimento da estrutura, de quem partiu a ordem para a instalação e se há outros equipamentos públicos que contam com o mesmo tipo de instalação hostil, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestação.
Em novembro, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei do Senado que proíbe o Poder Público de utilizar materiais, estruturas, equipamentos e técnicas de construção hostil para afastar a população em situação de rua dos espaços públicos. Batizado de Lei Padre Júlio Lancelotti, o PL 488/21 seguiu para a sanção do presidente Jair Bolsonaro (PL).
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