Sociedade

Padre Júlio Lancellotti rebate declarações de Bia Doria: ‘Gritar contra a retirada de um prato de comida é um dever ético’

‘Tira um prato de comida do padre Júlio para ver como ele grita’, disse a primeira-dama do estado de São Paulo

Padre Júlio Lancellotti rebate declarações de Bia Doria: ‘Gritar contra a retirada de um prato de comida é um dever ético’
Padre Júlio Lancellotti rebate declarações de Bia Doria: ‘Gritar contra a retirada de um prato de comida é um dever ético’
O padre Júlio Lancellotti. Foto: Reprodução/TV Brasil.
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O padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, rebateu nesta sexta-feira 19 as declarações feitas pela primeira-dama de São Paulo, Bia Doria, que o acusou de promover ‘assistencialismo’ junto às pessoas em situação de rua.

“Tem abrigos para todos e são bons. O orçamento que o estado de São Paulo passa para as ONGs daria para construir não sei quantos prédios por mês, mas ninguém pode mexer nelas senão todo mundo começa a gritar. Tira um prato de comida do padre Júlio Lancellotti para ver como ele grita. Agora pergunta quantas pessoas ele tira da rua? As pessoas precisam voltar para a sociedade, as pessoas precisam tirar da cabeça esse assistencialismo”, disse Bia Doria, em entrevista ao Universa, quando questionada sobre os abrigos disponíveis para pessoas sem moradia.

Bia Doria comanda, desde 2019, o Fundo Social de São Paulo, instituição voltada a pessoas em situação de vulnerabilidade social.

CartaCapital procurou o padre Júlio Lancelotti para comentar as declarações da primeira-dama. “Claro que ela não se referiu a mim quando disse de tirar um prato de comida, mas às pessoas em situação de rua. E é um dever ético, não só meu, mas dela e de todas as pessoas gritar contra a retirada de um prato de comida dessas pessoas, sobretudo nesse momento”, declarou o pároco.

Padre Júlio reforçou que o ato de ‘sair da rua’ não se concretiza descolado de condições de trabalho, moradia, saúde e dignidade. “A moradia, aliás, é um fator fundamental para que as pessoas não cheguem às ruas. Nesse período, muitas estão chegando por não conseguirem pagar seus aluguéis, por estarem inadimplentes ou ainda por sofrerem ações de reintegração, que sequer cessaram durante a crise sanitária”, acrescenta.

Ainda de acordo com o padre, no Núcleo de Convivência São Martinho de Lima, localizado no Belenzinho, zona leste de São Paulo, antes da pandemia chegavam, por mês, quatro mil pessoas em busca de alimentação. Em meio à pandemia o número dobrou: são oito mil pessoas. O local é uma das unidades do Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto e mantém diversas parcerias, além do convênio com a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social.

“Esse é um indicador do número assustador de pessoas em situação de rua que temos na cidade de São Paulo”, afirma Lancellotti, que cobra políticas sociais.

“Precisaríamos ter, de imediato, a renda básica para essas pessoas, dando prioridade às mulheres com crianças. É preciso garantir, sobretudo em um momento como este, proteção social e locação social a essas famílias”, afirma.

Padre Júlio Lancellotti, 72 anos, é responsável pela Paróquia de São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca. Desde 1993, coordena a Pastoral do Povo de Rua. É padre desde 1985 e foi um dos fundadores da Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo, em 1977.

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