Sociedade

Os alimentos e a eleição

O estardalhaço sobre a inflação no futuro dependerá do que for decidido no pleito de outubro

Tomates e feijões já trouxeram explosão de preços, metas fora do centro e governos fora do eixo
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Senhorinhas e senhorzinhos do Brasil, não esperem tão cedo abordagens midiáticas em feiras-livres e supermercados para opinarem sobre os preços dos alimentos.

As folhas e telas cotidianas têm essa lembrança dos senhores em outras épocas do ano. Aliás, todos os anos em períodos de entressafra ou de eventos climáticos que castigam campos brasileiros ou mundo afora.

Guardem, pois, a ansiedade para o 1° semestre do ano que vem. E não pensem que me refiro apenas a eventuais desequilíbrios na oferta ou clima pouco propício à produção, o usual que faz elevar os preços dos alimentos e arregalar os olhares de William e Patrícia, no Jornal Nacional.

Em 2015, além disso, estarão em vigência novos mandatos executivos. Presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais.

Nesta Federação de Corporações, as demais instâncias e seus loquazes porta-vozes são menos visados do que o Governo Federal, pouco cobrados, sobretudo quando se trata dos preços dos produtos que saem da agropecuária para inflacionarem nossas vidas.

Não muito diferente do acirrado combate à corrupção, em que Judiciário e vozes das ruas desconhecem o fenômeno como binário, uma troca eterna entre corruptos e agentes corruptores.

Não será necessário ir muito atrás no tempo para lembrar o pânico que fez dos alimentos os “vilões da inflação”. Tomates e feijões já trouxeram espiral inflacionária, explosão de preços, metas fora do centro e governos fora do eixo. Não são fatores multifacetados, têm sempre codinome federal.

Daí que a intensidade do estardalhaço sobre a inflação, para o futuro aqui aludido, dependerá também do que for decidido nas eleições de outubro.

Duas teses, dois protagonismos: “herança maldita de uma gastança desenfreada” ou “certos ajustes necessários que serão feitos agora”. Entendam-nas como confronto ou mesmo confraternização.

Permitam-me agora algumas linhas de festa imodesta, como escreveu Caetano Veloso.

Já nos últimos meses de 2013, safra brasileira plantada, aqui se previa produção agropecuária e estoques mundiais suficientes para não fazerem os preços dos alimentos, fibras e energias renováveis estourarem.

Sugeri que cairiam, embora não a ponto de criar graves embaraços aos exportadores brasileiros, hoje em dia, capitalizados, com taxa de câmbio mais favorável, sabedoria tecnológica, custos mais controlados e, apesar de alguns prejuízos climáticos, produções recordistas.

Em abril e maio passados, apontava que “o preço das commodities não vai explodir, nem aqui nem em lugar nenhum”, e que “uma boa forma de fugir da armadilha da especulação com os preços dos alimentos é consultar como andam oferta, consumo e estoques finais dos produtos agropecuários”.

Bem, à mesma conclusão chegaram, na sexta-feira passada, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e a FAO, órgão das Nações Unidas para agricultura e alimentação.

Em média, os estoques finais de trigo, milho e soja deverão crescer 2,8%, 8,5% e 26,9%, respectivamente, em relação à última safra.

Projeções que ficam mais aterrorizantes para os produtores se comparadas à safra 2012/13. Os excedentes crescem 8%, 36% e 50%, na mesma ordem.

Não boto muita fé na pouca expansão prevista para o consumo mundial pelas duas organizações, um dos fatores que provocam a elevação dos estoques.

Vejo as principais economias saindo dos perrengues mais agudos por que passaram, e o próprio diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, alardear diminuição no número de famintos no planeta.

Confesso, no entanto, que isso não mudaria muito o quadro de uma oferta mundial opressiva aos preços dessas commodities.

Nos casos de milho e soja, a notícia não traz conforto aos produtores brasileiros. Custos de logística, dependência quase que total dos preços dos insumos ditados pelo mercado internacional, seguro rural insuficiente.

Diante disso, além de aumentarem a produtividade nas lavouras, devem mantê-las, mas gastando menos usando tecnologias de menores impactos ambientais e de custos, que existem no mercado brasileiro de montão.

Mas, poderão perguntar os que ainda não reconheceram a importância da agropecuária de exportação: e o arroz e feijão nosso de cada dia, a saladinha, o legume refogado, o bifinho ou o peito de frango, ali no “quilo” da esquina, como ficarão?

Provavelmente, na boa e velha gangorra de sempre. Querem ver? Na próxima semana se eu não mudar de ideia.

De Kyoto a Nagoya

Na semana passada, escrevi que se não mudasse de ideia voltaria ao assunto. Além de não haver novidade fresquinha a respeito, o amigo Fernando de Souza Machado, em seu comentário, acrescentou muito ao assunto. Liberou-me do trabalho.

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