Sociedade
Operação contra o CV tem mais de 60 mortos no Rio, incluindo policiais
Ao menos 81 pessoas foram presas, segundo o governo estadual; escolas e postos de saúde tiveram os atendimentos interrompidos
Ao menos 64 pessoas morreram, entre elas 4 policiais, em uma megaoperação realizada nesta terça-feira 28 contra integrantes da facção Comando Vermelho (CV) nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, nesta terça-feira 28. Outras 81 teriam sido presas. As informações são da TV Globo.
A operação já é a mais letal história do Rio de Janeiro. Cerca de 2500 agentes das forças de segurança do estado foram às ruas cumprir 100 mandados de prisão. Segundo a Polícia, os agentes teriam sido alvo de retaliação de traficantes que reagiram com rajadas de tiros e barricadas em chamas. Ainda de acordo com as forças de segurança, os criminosos também utilizaram drones para lançar bombas contra as equipes.
Balanço parcial da operação:
- 60 suspeitos mortos em confronto, segundo a Polícia;
- 4 policias mortos, 2 civis e 2 militares;
- ao menos 3 pessoas inocentes feridas;
- 81 pessoas presas;
- apreensão de 75 fuzis, 2 pistolas e 9 motos.
Operação paralisou serviços essenciais na cidade
No início da tarde, o Centro de Operações e Resiliência da Prefeitura do Rio informou que a cidade entrou no estágio 2 devido a ocorrências policiais que interditam, de forma intermitente, diversas ruas das zonas Norte, Oeste e Sudoeste da cidade.
Quem circula pela cidade enfrenta medo, além de trânsito intenso e dificuldade de locomoção, já que há poucos ônibus em circulação, devido a barricadas. A Supervia informou que antecipou o horário do pico na volta para casa à tarde para atender ao alto volume de passageiros nas estações. A operação dos trens estaria normal. O prefeito do Rio Eduardo Paes (PSD) declarou que o BRT estão normalizados e que os outros serviços municipais estarão abertos até o fim do expediente.
Também há relatos de comércios fechados em bairros da cidade, como: Grajaú, Tijuca, Lins, Engenho Novo, São Cristóvão e Botafogo. Comércios da região sul, área nobre da cidade, também estão fechando as portas.
Comércios fecham as portas no bairro do Flamengo, na zona sul da cidade. Créditos: Divulgação

O impacto na saúde e educação
Na saúde, ao menos 5 unidades de Atenção Primária suspenderam o início do funcionamento e avaliam a possibilidade de abertura nas próximas horas, segundo a secretaria municipal. Uma clínica da família abriu, mas suspendeu as visitas domiciliares.
Já segundo a Secretaria Municipal de Educação, 28 escolas fecharam no Complexo do Alemão. Na Penha, 17 não abriram. A Secretaria Estadual de Educação informou que 4 colégios precisaram ser fechados.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ, suspendeu as atividades acadêmicas no turno noturno nos campi da capital e de Duque de Caxias. Além de suspender as aulas, a universidade anunciou que as faltas de hoje serão abonadas. “Já os trabalhadores, estudantes e usuários que estão no campus devem se manter abrigados nos prédios”, orientou a instituição, em nota.
A Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a Uerj, também suspendeu as atividades do período noturno nas unidades da região metropolitana. Em nota, a instituição também pediu que o deslocamento de pessoas que, por ventura, estejam na instituição, seja feito com cuidado.
Impasse entre governo do estado e governo federal
O Ministério da Justiça, chefiado por Ricardo Lewandowski, contestou declarações do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), sobre a megaoperação policial contra o Comando Vermelho nesta terça-feira 28.
Castro afirmou que o governo federal negou ajuda para operações e que o Rio estava “sozinho” na ação realizada nesta terça nos complexos do Alemão e da Penha.
“Tivemos pedidos negados três vezes: para emprestar o blindado, tinha que ter GLO, e o presidente é contra a GLO. Cada dia uma razão para não estar colaborando”, alegou o governador. Ele, porém, não solicitou formalmente ao presidente Lula (PT) um decreto de Garantia da Lei e da Ordem.
Em nota, o Ministério da Justiça afirmou que “tem atendido, prontamente, a todos os pedidos” do governo fluminense para o emprego da Força Nacional, em apoio aos órgãos de segurança estaduais. “Desde 2023, foram 11 solicitações de renovação da FNSP no território fluminense. Todas acatadas.”
Segundo o governo federal, a Polícia Federal realizou neste ano 178 operações no estado do Rio, 24 delas relacionadas a tráfico de drogas e de armas. No período, além de 210 prisões — 60 ligadas a investigações sobre o tráfico —, houve a apreensão de 10 toneladas de drogas e de 190 armas de fogo.
A pasta de Lewandowski menciona também o direcionamento, via Fundo Nacional de Segurança Pública, de quase 288 milhões de reais ao Rio de Janeiro desde 2019 — com rendimentos, o montante chega a 331 milhões. “Desse total, pouco mais de 157 milhões de reais foram executados até o momento, deixando um saldo superior a 174 milhões disponíveis.”
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