Sociedade
O que se sabe sobre o caso do motoboy preso após ser vítima de agressão à faca no RS
Agentes da Brigada Militar detiveram homem negro por suposto desacato a autoridade; agressor branco foi poupado


Em mais um caso de racismo flagrante praticados por agentes de segurança brasileiras, o motoboy Éverton Guandeli foi imobilizado e algemado pela Brigada Militar do Rio Grande do Sul, após denunciar ter sido agredido com uma faca por um idoso branco.
Enquanto a vítima seguia presa, o agressor conversava calmamente com os agentes. O caso aconteceu neste sábado 17, em Porto Alegre.
Vídeos gravados por testemunhas mostram o momento em que o motoboy pedia que o homem branco “pegasse a faca” na frente dos policiais.
Acabei de presenciar no bairro Rio Branco tentativa de homicídio e a vítima, um homem negro, foi levado preso. Com a mobilização da população levaram o agressor, um senhor branco junto. A violência da polícia com a vítima foi absurda. pic.twitter.com/4hTvtAG2im
— judz (@nietzsche4speed) February 17, 2024
Testemunhas confirmaram que o idoso teria tentado esfaquear Éverton momentos agentes da chegada dos agentes.
Momentos depois, vídeos revelam que o motoboy foi contido pelos policiais. Durante a abordagem ele rebatia: “Quem tá errado é ele, então me larga”.
Nas imagens é possível constatar ao menos quatro agentes tentando imobilizar o homem negro, que resiste, enquanto testemunhas gritam apontando que o agressor era o idoso de pele branca.
Éverton foi detido por resistência policial. O idoso somente foi levado à delegacia horas depois.
Segundo o boletim de ocorrência, obtido pela TV RBS, o homem negro apresentava escoriações no pescoço, possivelmente provocadas pelos golpes de faca. O homem branco teria escoriações na perna.
Testemunhas disseram que o idoso costuma xingar e reclamar com frequência de motoboys que esperam por entregas perto de sua residência.
O caso repercutiu nas redes sociais durante o final de semana.
Em publicação no X, antigo Twitter, o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida afirmou que o homem negro foi “tratado como criminoso” e que a conduta adotada pelos agentes demonstram “a forma como o racismo perverte as instituições e, por consequência, seus agentes”.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, também se pronunciou sobre o assunto, afirmando que estava agindo para a “responsabilização” dos envolvidos no caso.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) determinou, neste domingo 18, a abertura de uma sindicância para que a Corregedoria da Brigada Militar estadual apure as circunstâncias da abordagem.
Em publicação nas redes, Leite reforçou a “confiança” que tem “nos homens e mulheres que compõem as forças de segurança”.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Davi sofre racismo no BBB: a “energia” que não bate no reality tem cor e é preta
Por Liniker Xavier
Médico é condenado a pagar R$ 300 mil por racismo em Goiás após acorrentar negro e mandar “ficar na senzala”
Por CartaCapital