Sociedade
Justiça do Rio manda soltar universitário baleado por PM; caso vai para a corregedoria
Igor de Melo Carvalho, de 32 anos, estava como passageiro de uma moto de aplicativo, voltando para casa depois de um dia de trabalho, quando foi atingido


A Justiça do Rio de Janeiro mandou soltar o motorista de aplicativo Thiago Marques Gonçalves e determinou o fim da custódia do universitário Igor Melo de Carvalho, que foi baleado pelas costas por um policial militar da reserva, após ser confundido com um ladrão, e segue internado em estado grave.
A decisão foi dada durante audiência de custódia realizada na tarde desta terça-feira 25. Os dois haviam sido presos em flagrante acusados por um casal de envolvimento em um assalto na madrugada da segunda-feira 24, na Penha, na Zona Norte.
Thiago, de 24 anos, deixou o presídio em Benfica, no início desta tarde. Igor, de 32 anos, segue internado no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha.
Igor chamou o serviço de moto por aplicativo ao sair do trabalho em direção à sua residência, por volta da 1h30 da madrugada. Câmeras de segurança registraram o momento do embarque.
No trajeto, percebeu que a motocicleta era perseguida por um veículo até que, momentos depois, ouviu disparos e caiu da moto. Percebendo estar ferido, Igor conseguiu ligar para colegas de trabalho, que foram até o local e o socorreram ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha. De início, o jovem foi detido e encaminhado ao hospital, sob custódia da Polícia.
Igor é estudante do curso de Publicidade no Centro Universitário Celso Lisboa. Além disso, é dono da página Informe Botafogo, que conta com quase 15 mil seguidores nas redes sociais. Casado, é pai de um menino de três anos.
A Fúria Jovem do Botafogo (FJB), em nota, lamentou o ocorrido e declarou apoio ao jovem. A torcida definiu o jovem como um “trabalhador incansável e exemplo de integridade”.
O motorista da moto por aplicativo é Thiago Marques Gonçalves, de 24 anos, morador de Magé, na Baixada Fluminense. Segundo a mãe do rapaz, ele atua com o transporte de moto desde o ano passado, depois que foi demitido de um emprego com carteira assinada; ele é pai de dois filhos pequenos.
Quem é o PM autor dos disparos
Segundo a Polícia Militar, o autor dos disparos é o policial militar da reserva Carlos Alberto de Jesus, que agiu após a esposa ter supostamente reconhecido o condutor da moto como um dos responsáveis pelo roubo do seu celular.
Em depoimento, a mulher disse que estava em um ponto de ônibus por volta das 23h do domingo 23, quando dois homens, um de camisa preta e um de camisa amarela, se aproximaram em uma moto azul. O de camisa amarela, que seria Igor, teria tirado o telefone celular da mão da declarante.
No entanto, segundo as investigações, Igor pediu o transporte de moto por aplicativo para sair do trabalho, na Penha, duas horas depois do horário que a mulher do policial alega ter sido assaltada no mesmo bairro.
O PM da reserva Carlos Alberto de Jesus admitiu ser o autor dos disparos, mas mudou a versão sobre o caso em um segundo depoimento. Inicialmente, o PM disse que viu Igor, armado, de camisa amarela e na garupa da moto de Thiago, e que por isso atirou. E que o roubo do celular de sua esposa teria acontecido entre 1h15 e 1h30.
Já em uma segunda versão,o PM afirmou que pediu para Thiago parar a moto, com o comando “Encosta, polícia”. Afirmou ainda que, em seguida, o homem que estava na garupa de camisa amarela, que seria Igor, colocou a mão próxima a cintura e realizou um movimento girando seu corpo para a esquerda e após para a direita, supostamente fazendo menção em estar armado. Depois disso, o policial diz ter freado o seu veículo, sacado a sua arma calibre .38 e atirado duas vezes.
‘Indícios totalmente esvaziados’
Ao determinar a soltura das duas vítimas, a juíza Rachel Assad da Cunha, da 29ª Vara Criminal da Capital, afirmou que ‘os indícios de autoria ficaram totalmente esvaziados’.
“Portanto, todas as informações indicam que tanto Carlos Alberto quanto Josilene teriam confundido os ora custodiados com os supostos autores do crime de roubo, de forma que os indícios de autoria restam totalmente esvaziados, impondo a imediata soltura dos custodiados”, afirmou.
A magistrada também atendeu a um pedido da defesa e encaminhou cópias do processo para a Promotoria de Investigação Penal e a Corregedoria da Polícia Militar, que poderão investigar a conduta do policial da reserva.
Mais cedo, a Polícia Civil confirmou que o caso foi registrado na 22ª DP (Penha), que tem 30 dias para concluir o inquérito. Os policiais ainda vão analisar imagens de câmeras próximas para ver se alguma delas registra o assalto contra a mulher e avaliar a rota da moto pilotada por Thiago, que iria levar Igor para casa quando foram alvos dos disparos.
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