Sociedade

O que move o feminismo asiático no Brasil?

Mulheres de ascendência asiática compartilham experiências e discussões na Plataforma Lótus

Laís, Carolina e Juily, juntas na luta pelo feminismo interseccional (Foto: Ingrid Matuoka)
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“Nós, mulheres asiáticas, precisamos contar, compartilhar e discutir a história de nossas antepassadas, a história de nossas contemporâneas, e principalmente, a nossa história”, diz o manifesto da Plataforma Lótus, catalisadora de discussões e estudos sobre feminismo asiático no Brasil.

Criado em julho de 2016, o coletivo reúne feministas de ascendência japonesa, chinesa, coreana e okinawana, além de expandir as fronteiras para acolher as vivências de mulheres com trajetórias ligadas à Índia, ao Oriente Médio e ao sudeste da Ásia. 

Além da partilha de histórias e experiências, o combate à  fetichização dos corpos femininos ditos “orientais” e a visibilização de informações sobre feministas e mulheres asiáticas proeminentes podem ser encontrados na página do grupo no Facebook, que conta com cerca de duas mil seguidoras.

Além disso, um grupo fechado com 400 mulheres também promove discussões atreladas ao tema no Facebook. O grupo é voltado para mulheres asiáticas (inclusive as trans e as que ainda estão em transição) e de outros grupos minorizados. 

Um tópico recorrente entre as participantes da Lótus é a posição da mulher asiática como fetiche. A atitude, que não é exclusiva dos brasileiros, extravasa em comentários como “adoro pegar orientais” ou “sempre quis namorar uma japonesa”.

“Como mulher brasileira de ascendência asiática, eu sinto que as compreensões sobre opressão reúnem muito essa fórmula que é etnia, raça e gênero, pois querendo ou não existe uma objetificação imensa sobre o meu corpo, e uma fetichização sobre esse corpo e essa cultura que em fenótipo acompanha ela”, explica a fundadora Caroline Ricca Lee, 27 anos, de ascendência sino-japonesa.

Se por um lado o grupo surge de maneira complementar a outros feminismos e acolhe mulheres com históricos específicos, por outro, sofre críticas. Laís Miwa Higa, de ascendência okinawana, analisa a questão: “Muita gente diz que agora criaram movimentos trans, inventaram o movimento feminista negro, que isso separa, fragmenta, mas, na verdade, talvez a sociedade já houvesse separado esses grupos. Será que essas pessoas já não se sentiam separadas de uma ideia de brasilidade e de cidadania?”.

Ao lado dessas questões, há o cuidado de não perder de vista questões históricas e políticas. Por isso, assim como outros grupos de militância asiática, existe a preocupação com a discussão sobre privilégios de alguns grupos minorizados, a busca pela solidariedade anti-racista e com a luta anti-colonialista.

Também participante da Lótus, a cineasta amazonense Juily Manghirmalani, filha de indianos, explica que nem todas as mulheres sofrem as mesmas opressões.

“O fato de eu ser de uma família indiana, que não falam 100% o português e terem histórias de guerra de outra colonização muda minha experiência na sociedade brasileira”, justifica, criticando o enquadramento dos indianos no Brasil em uma moldura de exotismo, calcada por estereótipos.

“Sempre fui muito enquadrada em estereótipos relacionados a um Oriente mágico, cheio de tapetes e fumaças. E pelo fato de eu não ver pessoas árabes ou indianas parecidas comigo fez com que eu não me enxergasse”.

Outro objetivo da Lótus, que também realiza encontros presenciais e promove um coletivo artístico, é promover a vocalização das mulheres asiáticas, tidas no imaginário do senso comum como submissas, caladas e dóceis.

“O principal movimento é para que possamos ser incluídas: seja no feminismo, na mídia ou na cultura. Essa inclusão é necessária para a decaída de todos os estigmas que sofremos até hoje”, afirma Ricca Lee.

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