Sociedade

O que afasta os turistas estrangeiros do Brasil?

País recebe 6,5 milhões de visitantes por ano, menos até que Osaka, no Japão. Motivos vão de falta de infraestrutura a manchetes negativas

Rio: Copa do Mundo e Olimpíada não foram suficientes para turbinar turismo (Foto: Rafael_Defavari/CC)
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O Brasil atrai atualmente um pouco mais de 6,5 milhões de turistas estrangeiros por ano. Pode parecer muito, mas o número é baixo considerando seu tamanho continental e a variedade de atrações e belezas naturais. O país perde, por exemplo, para a cidade de Osaka, no Japão, que recebe anualmente cerca de 8,4 milhões de visitantes estrangeiros.

Nos últimos dez anos, o Brasil não apareceu entre os 40 país que mais recebem visitantes estrangeiros, segundo dados da Organização Mundial de Turismo (UNWTO). Nações como África do Sul (10,2 milhões), Austrália (8,8 milhões) e Tailândia (35,4 milhões) – que ficam praticamente tão longe quanto o Brasil dos EUA e da Europa, principais centros emissores de turistas – recebem mais estrangeiros.

Enquanto as chegadas de turistas estrangeiros cresceu 7% no mundo em 2017 em comparação ao ano anterior, a maior alta desde a crise financeira mundial de 2008, o turismo no Brasil aumentou somente 0,6% no mesmo período, segundo a UNWTO.

Segundo especialistas, entre os principais motivos para um país com tanta diversidade de destinos “patinar” no turismo mundial estão as manchetes negativas no exterior; a pouca divulgação internacional; a falta de preparo e infraestrutura para receber os estrangeiros e o alto custo da viagem.

“O turismo internacional no Brasil ganhou mais força no país nos últimos dez anos e, portanto, carece de maturidade. O Rio de Janeiro sempre foi um destino muito procurado internacionalmente”, diz André Coelho, especialista em turismo da FGV Projetos. “Mas, quando pensamos no Brasil como um todo, ele está em estágio de maturidade anterior ao de outras nações menores.”

O especialista enxerga a imagem brasileira como manchada pelo noticiário negativo recorrente. As notícias no exterior são, geralmente, um misto entre casos de violência, como a intervenção federal no Rio, crises e desastres, como o de Brumadinho.

Ministérios de Relações Exteriores de países estrangeiros costumam dar conselhos aos viajantes em seus sites. O da Alemanha, por exemplo, cita que “o risco de se tornar vítima de um assalto ou outro crime violento é significativamente maior no Brasil do que nos países da Europa Ocidental” e que algumas cidades grandes como Belém, Porto Alegre, Recife, Salvador, Fortaleza, São Luiz, Maceió, Rio de Janeiro e São Paulo “têm altas taxas de criminalidade” e que “a cautela é apropriada, mesmo em partes do país e de cidades consideradas seguras”.

Outro fator que impede o aumento do número de turistas internacionais no país é o custo total da viagem. Os alemães, por exemplo, pagam cerca de 600 euros para voar durante o verão europeu para Bangcoc, num trajeto que dura cerca de 11 horas. Já para São Paulo, no mesmo período, a viagem de cerca de 12 horas custa normalmente 1 mil euros. Além da passagem, o custo de hotéis, entrada em atrações, transporte e alimentação na Tailândia é bem menor do que no Brasil.

“O custo total da viagem interfere no processo decisório do turista. Para um alemão ou europeu ocidental, por exemplo, é mais barato viajar e se custear na Tailândia do que no Brasil”, conta André Coelho, da FGV Projetos. “Há também mais voos da Europa para o país asiático, já que Bangcoc serve também de hub [centro de distribuição de voos] para passageiros que vão para outros destinos no sudeste asiático e Austrália. Assim, os preços dos tíquetes aéreos se tornam mais baratos.”

O especialista diz, ainda, que a Copa do Mundo no Brasil, em 2014, e os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, em 2016, não foram suficientes para turbinar o turismo no país. “A Copa, por ter tido um alcance nacional com as doze sedes e mais pessoas assistindo às partidas no mundo, deu uma boa visibilidade para o Brasil”, explica Coelho. “Já a crise econômica atingiu não só o Rio de Janeiro, mas também todo o país, um ano antes do início dos Jogos Olímpicos, atrapalhando o sucesso do megaevento no Rio.”

Divulgação do país e facilitação de vistos

O Ministério do Turismo reconhece que a chegada de turistas estrangeiros não condiz com o potencial do país e que tem trabalhado na conectividade do Brasil e o aumento da promoção internacional. Isso englobaria a isenção de visto – sem reciprocidade – para quatro países considerados estratégicos: EUA, Canadá, Japão e Austrália. Há a expectativa de que a liberação possa acontecer ainda este ano.

Entre as metas do governo federal para o período de 2019-2022 está um salto na chegada de turistas estrangeiros: dos 6,8 milhões estimados em 2018 para 12 milhões de visitantes internacionais em 2022.

Mas ao mesmo tempo em que pretende quase dobrar o número de chegadas internacionais no país em um período de quatro anos, a Embratur – responsável desde 2003 pela promoção do Brasil no mercado internacional – encerrou no final de 2018, após cinco anos, o contrato com executivos que faziam a divulgação do país em 11 nações estratégicas: EUA, França, Argentina, Peru, Itália, Alemanha, Espanha, Portugal, Reino Unido, Rússia e Japão.

O governo federal, porém, não vê prejuízos para o setor, já que, a partir deste ano, o relacionamento com profissionais do setor turístico internacional será comandado diretamente pelo corpo técnico da Embratur, numa ação articulada com o Itamaraty. “Uma equipe de servidores estreitará relações com os mais de 23 mil parceiros internacionais já mapeados, entre operadores de turismo, companhias aéreas, agências de viagem e outros”, afirma o texto.

Nos últimos cinco anos, o Brasil viu também sua verba de promoção turística no exterior cair mais da metade. De acordo com dados do Ministério do Turismo, o país investiu 117,3 milhões de reais em 2014 em ações de divulgação. Já em 2018, o montante foi de 51,3 milhões de reais.

O Ministério do Turismo acredita que a aprovação do projeto que prevê a criação da Agência Brasileira de Promoção do Turismo (nova Embratur), que está em tramitação no Congresso, dará mais flexibilidade à gestão da autarquia e reforçará a promoção internacional por meio de parcerias com a iniciativa privada para atrair turistas, eventos e investimentos.

“A Embratur precisa de mais recursos para fazer a promoção do país. Marketing turístico é muito mais do que publicidade nas redes sociais, é ter também representação estratégica no exterior”, afirma Coelho. “A promoção brasileira precisa sair para o mundo. Não se pode promover o país estando no Brasil. Há um potencial de crescimento muito grande, mas ele depende de uma nova gestão de promoção turística também”, completa o especialista.

Ele diz ser positivo o movimento do Brasil de simplificar o visto de turista para cidadãos dos EUA, Canadá, Japão e Austrália. Entre as facilidades do visto eletrônico estão a redução do custo da emissão da autorização, que passou de 160 dólares para 40 dólares (além de uma taxa de 4,24 dólares) e do prazo médio, que foi alterado de 30 dias para a média de até cinco dias úteis. A meta, agora, é ampliar esse benefício para outros mercados estratégicos como China e Índia.

Após a adoção do visto eletrônico a partir de dezembro de 2017, o Ministério das Relações Exteriores observou um crescimento nos países beneficiados – EUA, Canadá, Japão e Austrália – de cerca de 40% no pedido de visto para o país, o que pode potencialmente representar uma injeção de 71,5 milhões de dólares na economia brasileira.

“Esses movimentos de flexibilização de visto só ganharam força nos últimos dois anos, já poderiam ter sido feitos antes”, conclui Coelho. “Alinhada a medidas como mais segurança e infraestrutura para turistas, além de uma melhor divulgação do Brasil no exterior, a adoção do visto eletrônico e a liberação unilateral de vistos para alguns países trará mais visitantes para o país.”

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