Sociedade

O paradoxo do Twitter: os prós e os contras de ser livre

Os investidores se preocupam com o modelo de negócios da companhia, mas sua atual estratégia fez dela a líder de mercado

Ações do twitter tem caído desde que empresa entrou na bolsa
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Por John Naughton

A vida é tão injusta. Considere-se o humilde tritão – que, caso você esteja se perguntando, é um anfíbio da família dos salamandrídeos. Ele teve uma péssima divulgação ao longo dos anos.

O pior de tudo, porém, é a acusação de que os tritões supostamente têm períodos de atenção curtos. A verdade é que, comparados com os “analistas” de ações de tecnologia, as salamandras têm a energia intelectual de Einstein.

Veja, por exemplo, o atual mercado de ações agitado com os resultados financeiros do Twitter. Os leitores com boa memória vão se lembrar do frenesi sobre o Twitter quando se lançou nas bolsas em novembro passado. As ações abriram a 26 dólares e fecharam a 44,90, dando à empresa uma valorização de cerca de 31 bilhões de dólares em um dia. Instado por esses analistas, todo mundo queria uma fatia da Twitter – apesar de ninguém ter a menor ideia real de como a companhia poderia ganhar dinheiro.

Desde então as ações perderam valor constantemente, mas na última quarta-feira 30 houve uma aceleração na queda: elas baixaram 12,6% depois de o Twitter ter anunciado que teve mais um trimestre de prejuízos, apesar de as perdas declaradas serem menores do que alguns analistas tinham previsto. A coisa que assustou o mercado parecia ser que o crescimento de usuários do Twitter – e sua utilização do serviço – parecia estar desacelerando.

“Acreditamos”, disse um analista de investimentos, “que milhões de consumidores experimentaram o Twitter só para encontrar um produto complexo com relevância e valor marginais – uma visão que percebemos como em forte contraste com a fanática lealdade de que a companhia desfruta entre seus principais usuários.”

Há duas coisas paradoxais sobre o Twitter.

A primeira é como tantas pessoas aparentemente não conseguem entender o que parece uma ideia extremamente simples – livre expressão, 140 caracteres por vez. Há muito tempo eu perdi a conta do número de pessoas que me procuravam em eventos sociais dizendo que simplesmente não conseguiam entender a ideia do Twitter. Por que alguém estaria interessado em saber o que elas comeram no café da manhã? Eu explicava pacientemente que alguns tuiteiros realmente podem estar transmitindo detalhes de seus hábitos alimentares, mas a importância do meio é que permite que entremos no “fluxo de ideias” de pessoas interessantes. A chave da coisa, em outras palavras, está em escolher quem irá “seguir”. Dessa maneira, o Twitter funciona como um feed RSS mediado por humanos, e é por isso que, na minha humilde opinião, continua sendo um dos serviços mais úteis encontrados na Internet.

O segundo paradoxo sobre o Twitter é como um serviço que se tornou onipresente – e goza de quase 100% de reconhecimento do nome, pelo menos nos países industrializados – poderia se tornar matéria-prima de pesadelos de analistas. Eles temem que não tenha um modelo comercial capaz de um dia produzir as receitas a justificar as esperanças dos investidores.

Eles podem ter razão sobre o modelo comercial – e, nesse caso, o Twitter se torna um perfeito caso de estudo na economia dos bens de informática. A chave do sucesso no ciberespaço é controlar o poder da Lei de Metcalfe, a qual diz que o valor de uma rede é proporcional ao número de seus usuários ao quadrado. Em termos laicos, isso significa que quanto mais depressa você puder adquirir usuários mais depressa você alcançará o ponto de ser o vencedor que leva tudo. E a maneira mais rápida de fazer isso é oferecer seus serviços de graça, em vez de cobrar por eles. Mas, como custa bastante oferecer serviços online em escala maciça, a estratégia grátis só pode ser realizada levantando capital de risco e queimando-o em um ritmo fenomenal.

E exatamente o que o Twitter vem fazendo. No último trimestre, por exemplo, ele queimou 132,4 milhões de dólares dos investidores, que foi a diferença entre seus custos operacionais e os 250,5 milhões de dólares que teve em vendas. As perguntas existenciais para a empresa, portanto, são se ela poderá chegar ao ponto em que pelo menos empata; e se poderá chegar lá antes de acabar com o dinheiro dos investidores.

A coisa que empala empresas como Twitter nos chifres desse dilema é, em última instância, nossa relutância em pagar por serviços online. Mas aí está outro paradoxo cruel: se o Twitter tivesse cobrado dos usuários desde o início, teria crescido de maneira sustentável, cobrindo seus custos conforme se desenvolvia, e ninguém se preocuparia com seu futuro. Mas agora já teria sido eclipsado por um rival que se expandiria mais depressa oferecendo serviços comparáveis de graça. A primeira regra do ciberespaço é: a Lei de Metcalfe domina.

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