Sociedade

O Brasil, as exportações e o entreguismo

Entre 1989 e 2016, nossas exportações cresceram 3,5 vezes, a taxa anual de 4,8%. Nada mal

Dos US$ 185 bilhões exportados pelo Brasil no ano passado, 40% foram de produtos agropecuários
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Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), nos últimos 50 anos, o PIB dos países que fazem parte do órgão cresceu a uma taxa anual de 3,3%. Conta mais de 160 membros. Lá, tudo é “visto assim do alto e parece um céu no chão”.

Anualizadas e consideradas em quantidade, não valor, as exportações de manufaturados cresceram 30 vezes (6,7% a.a.), as de combustíveis e minerais 4,8 vezes (3,1% a.a.), e as de produtos agrícolas 5,5 vezes (3,3% a.a.).

Uma história que foi se consolidando, a partir do século 18, o Brasil distraído em fazer de um País uma Federação de Corporações. História, fatos e perdas de oportunidade conhecidas de todos, à exceção daqueles que, hoje em dia, aperfeiçoam o debacle e provocam colapso de grandes proporções. A seguirem assim, de caráter irreversível.

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Por que começo o texto tratando das exportações mundiais? Porque é comum ouvir-se sobre nossa pequena participação nas exportações totais e de manufaturados.

Fazemos o que podemos, legado de gerações inaptas. Ou não?

Passamos por períodos importantes de nacional-desenvolvimentismo, com política, economia, leis, imprensa e cultura pensadas por homens dignos.

Mesmo os canalhas eram melhores preparados. De Getúlio Vargas, passando por Juscelino, Jango até os militares algozes da paz e da democracia, nos anos de chumbo.

De qualquer forma, em todas as áreas o Brasil se mexia.

Deixemos o planeta com suas estatísticas de 50 anos, conformadas em assimetrias históricas e econômicas, destino sul-americano e dos demais países pobres.

Pensemos no que aqui aconteceu depois que saímos de 21 anos de ditadura, dando quatro anos de lambuja, tempo suficiente para que nos ajustássemos à democracia. “Vai passar”, não vai Chico? Passou, não.

Nossas exportações, mesmo que predominantemente de bens primários, em quantidade, entre 1989 e 2016 (o golpe usufruindo do passado FHC/Lula/Dilma), cresceram 3,5 vezes, a taxa anual de 4,8%. Nada mal.

Aproveitávamos o bom momento da conjuntura, embora sem distinguir entre imperialismo e globalização. Foi-nos possível, então, no final dos anos 1990 e os primeiros deste século, com o Plano Real de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, seguido dos dois mandatos de Luiz Inácio “Lula” da Silva, mostrar um país pronto para o Corcovado explodir como um foguete em direção à glória.

E fomos assim tão primários?

Nem tanto. Dos US$ FOB 185 bilhões exportados pelo Brasil no ano passado, economia doente, política destruída, rentismo exacerbado, 40% foram de produtos agropecuários – de soja, carnes a frutas e pescados), 13,7 % de veículos, 14,8% minérios, produtos metalúrgicos e outros metais, 7,3% petróleo e derivados, 6,9% da indústria química, 6% maquinários, 4% papel e celulose, e 7,3% divididos entre couro e calçados, ouro, pedras preciosas, eletrônicos, têxteis, móveis, vidraçaria e cerâmicas.

Enfim, temos de tudo, e poderíamos usar em benefício próprio, mas somos “dadeiros”, como um dia Dorival Caymmi se autodenominou, caso tivesse nascido mulher. Ô diletas feministas economistas pop-star, quaisquer reclamações se dirijam aos filhos dele e não a esse pobre escrevinhador de publicações com verbas temerosamente cortadas.

Falta-nos apenas uma coisa: deuses se negam a prover os povos com inteligência, cada um que se vire. Estão entregando tudo, de forma descarada, inescrupulosa, assassina, por que tira a cidadania e a dignidade dos mais pobres.

Enquanto Temer compra políticos, Meirelles vende patrimônios, e assim se fazem de putas (sim, não há termo mais perfeito) para o extrato mais rico do País, o professor em Harvard, Dani Rodrik, se surpreende como países da África e da Ásia crescem em taxas médias de 6% anuais, mesmo desindustrializados.

Etiópia, Costa do Marfim, Tanzânia, Senegal, Burkina Faso, Ruanda, na África. Índia, Mianmar, Bangladesh, Laos, Camboja, Vietnã, na Ásia.

Agricultura pouco diversificada, exportações limitadas pela falta de competitividade. O que fizeram? Modernizaram e diversificaram a agricultura familiar, quem não ficou migrou para setores de atividade que possibilitam maior produtividade do trabalho, vale dizer serviços, investimentos públicos, qualificação e treinamento, enfim, geraram demanda interna.

Tudo o que aqui se tentou, estava dando certo, e hoje se evita. Olhem, basta olhar o perfil de nossas exportações para notar quão mais privilegiados somos.

Tenho notícia de ricaços e empresários brasileiros se mudando para Miami, Londres, Portugal, quando não paraísos fiscais. Países que também sofrem com instabilidades políticas, econômicas e sociais, ou vivem de dinheiro ilegal.
Tentem Burkina Faso. Poderão sentir-se reis.

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